O que era para ser a audiência pública da comissão especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 199/2019, da prisão após julgamento em segunda instância, ontem, na Câmara, tornou-se palco de um bate-boca que envolveu o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e os deputados Glauber Braga (PSol-RJ) e o governista Delegado Éder Mauro (PSD-PA). “Capanga”, “desqualificado” e “sua mãe é uma ladra” foram as ofensas que ecoaram na sala da comissão.
A sessão, que durou aproximadamente quatro horas, tinha tudo para continuar até o final com debates relativamente tranquilos. Mas, no momento em que Glauber chamou Moro de “lobo em pele de cordeiro”, o clima começou a pesar. O deputado disse que o ministro foi bem treinado pelos Estados Unidos e, na sequência, voltou a ofendê-lo, chamando-o de “capanga das milícias e de Bolsonaro”.
O Marcelo Ramos (PL-AM), que conduzia os trabalhos, tentou contornar a situação, pedindo moderação a Gláuber, apesar do protesto dos governistas. O presidente da comissão justificou sua postura afirmando que como permitiu os elogios ao ministro, não poderia censurar as críticas.
Glauber voltou ao microfone. “Toda vez que questionado sobre o caso do Flávio, ele (Moro) diz que é responsabilidade da polícia, da Justiça, do Ministério Público do Rio de Janeiro. Mas saiu um relatório da PF isentando Flávio de crimes no Rio. Me desculpe se não posso usar de polidez. Ele diz que a PF não tem nada a ver com o que ocorre no Rio, mas a primeira coisa que fez foi mandar a polícia para pressionar o porteiro em seu depoimento no condomínio do presidente da República. Essa atuação, de quem finge ser uma coisa, mas é outra, é atuação de lobo em pele de cordeiro”, insistiu.
Glauber afirmou que as milícias fazem parte de um “projeto de poder de Bolsonaro e de seus apoiadores”, e chamou Moro de “capanga da milícia”. O ministro rebateu, logo em seguida. “O senhor não tem fatos, argumentos. É um desqualificado”, atacou. Governistas aplaudiram. Ramos interveio novamente e disse que Moro não poderia falar assim com um parlamentar.
O ministro pediu desculpas. “Vim para essa casa falar sobre a PEC. Sempre tratei a todos com extremo respeito e gentileza, mesmo quando fui ofendido (...) Não existe fato. Eu não interfiro nas investigações da Polícia Federal”, acrescentou. Glauber, então, o chamou de mentiroso. Moro reagiu. “Não existe nenhum fato que possa dizer que eu tenha protegido ‘X’ ou ‘Y’. Quem protegeu milícia foi o seu partido”.
Glauber voltou a chamar o ministro de mentiroso, quando o deputado Éder Mauro se juntou à troca de ofensas e chamou a mãe de Glauber de “uma ladra”. Por pouco os dois não brigaram. Diante da impossibilidade de conter os ânimos, Ramos encerrou os trabalhos. Moro saiu sem falar com a imprensa.
Após a sessão, o presidente da comissão lamentou o episódio. “Eu quero crer que o grande ganho dessa audiência pública não foi esse bate-boca. Foi a palavra do ministro, que tem a convicção de que a PEC deve atingir causas penais e cíveis. Isso é o grande ganho. Parece haver uma unanimidade em torno dessa ideia”, explicou.
"Eu quero crer que o grande ganho dessa audiência pública não foi esse bate-boca. Foi a palavra do ministro, que tem a convicção de que a PEC deve atingir causas penais e cíveis
Marcelo Ramos, presidente da comissão