Politica

Parlamentares insistem em convocação de Guedes por causa de ''parasita''

Ministro da Economia diz que se expressou mal. Desculpas, porém, não convencem, e ele pode ter de se explicar no Congresso

Para tentar conter o mal-estar que pôs em xeque a reforma administrativa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, nesta segunda-feira (10/2), que se expressou mal ao se referir a servidores públicos como parasitas. Ele ainda pediu desculpas pela comparação, feita durante uma palestra em defesa das reformas econômicas, que provocou uma enxurrada de críticas nos últimos dias. Guedes, no entanto, não convenceu a todos os funcionários públicos. E, por isso, pode ter de se explicar no Congresso Nacional e no Conselho de Ética da Presidência.


“Eu me expressei muito mal, e peço desculpas não só a meus queridos familiares e amigos, mas a todos os exemplares funcionários públicos a quem, descuidadamente, eu possa ter ofendido”, afirmou Guedes, em uma mensagem enviada para o WhatsApp de jornalistas na manhã desta segunda.

No texto, Guedes ainda disse que não estava se referindo aos servidores quando usou o termo parasita, mas a municípios que estão em situação extrema de crise fiscal. “Eu não falava de pessoas, falava dos casos extremos em que municípios e estados gastam todas as receitas com salários elevados, de modo que nada sobrava para educação, segurança, saúde e saneamento”, alegou.

O ministro acabou, então, fazendo uma nova analogia do que seria o parasita e o hospedeiro nessa situação de crise fiscal. Desta vez, sem citar os servidores. “Se o Estado existe para si próprio, então é como um parasita (o Estado perdulário) maior que o hospedeiro (a sociedade). (...) O Estado, o governo municipal, o governo estadual, neste caso, vira um parasita maior que o hospedeiro, ou seja, a comunidade a quem deve servir”, afirmou, reiterando, contudo, que, nessa situação, não é possível dar reajustes automáticos ao funcionalismo.

Culpa da imprensa

Na sexta-feira, porém, Guedes defendeu o fim de reajustes automáticos do funcionalismo de uma forma diferente. Ele disse, em um seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro, que os servidores pareciam parasitas se aproveitando de um hospedeiro que já está morrendo, quando pediam reajustes superiores à inflação neste período de crise econômica e rombo fiscal. E logo foi criticado por diversas carreiras do funcionalismo. No mesmo dia, Guedes foi mais discreto no pedido de desculpas. Limitou-se a dizer que sua fala foi retirada de contexto pela imprensa e que reconhecia a qualidade dos servidores, sem deixar de defender o fim dos reajustes automáticos do funcionalismo.

Por isso, as entidades que representam o funcionalismo público não se mostraram satisfeitas com o pedido de desculpas recebido, via imprensa, ontem. Elas reclamam que, além de ofender os servidores, Guedes usou dados falsos para falar dos reajustes salariais e dizem que, por isso, o ministro pode ter que responder por calúnia, injúria e difamação. “Queremos que a Comissão de Ética da Presidência da República apure quebra de decoro em relação ao Código de Ética profissional do servidor público civil e ao Código de Conduta da Alta Administração Federal e penalize o ministro por suas ofensas ao conjunto de trabalhadores do setor público brasileiro”, ressaltou o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques. Ele disse estar tomando as medidas judiciais cabíveis (veja mais repercussão na página 3).