A reforma administrativa era tida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como uma proposta “fácil de aprovar” no Congresso, já que não vai afetar os direitos dos atuais servidores. Essa “facilidade”, contudo, pode ter sido enterrada pela declaração dele comparando servidores a parasitas. É que muitos parlamentares também criticaram a fala de Guedes. Até deputados do Centrão, favoráveis à reforma, acreditam que o ministro acrescentou um ingrediente político infeliz a uma discussão que deveria ser técnica. Ingrediente que pode, portanto, atrapalhar o andamento da reforma.
Ontem mesmo, Guedes afirmou que estava impressionado com a disposição do Congresso de discutir as reformas econômicas propostas pelo governo, como a administrativa e a do pacto federativo. Ele afirmou que os parlamentares estão abraçados às pautas.
Deputados disseram que a disposição de tratar os temas realmente existe. Até a Frente Parlamentar Mista do Serviço Público, que é contra propostas como o fim da estabilidade, estava pronta para discutir os pontos do futuro texto. Depois das declarações de Guedes, o sentimento é outro. Segundo deputados, a reforma tende a sofrer muito mais resistência agora que o ministro se indispôs com os servidores.
“É algo que contamina uma discussão, que deveria ser técnica, com um ingrediente político que vai acirrar os ânimos”, lamentou o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB). “Acho que temos problemas no serviço público, mas não podemos generalizar e ignorar a grande maioria dos servidores que dedicam suas vidas a servir ao Estado. Então, é uma declaração ruim, que atrapalha a tramitação da matéria”, acrescentou o vice-líder do PL na Casa, Marcelo Ramos (AM). Ele espera retratação de Guedes para não retardar ainda mais a aprovação da matéria.
Coordenador da Frente Parlamentar Mista do Serviço Público, o deputado Professor Israel (PV-DF) admitiu que a resistência do funcionalismo só tende a aumentar. A própria frente prometeu apresentar um pedido de convocação de Guedes na segunda-feira. “Não vamos aceitar declarações que generalizem uma opinião extremamente preconceituosa sobre os servidores”, criticou. Para ele, esse tipo de declaração indica que, além do teor fiscal, a proposta do governo carrega um caráter revanchista. (MB)