A fritura do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, teve mais um capítulo ontem. Em uma mesma publicação no Diário Oficial da União, o presidente Jair Bolsonaro tornou sem validade a nomeação de Vicente Santini para o cargo de assessor especial da Secretaria Especial de Relacionamento Externo da pasta. A nomeação dele havia saído na quarta-feira.
Santini tinha sido indicado a assessor especial menos de 24 horas depois de ser demitido do posto de secretário executivo da Casa Civil, após viagem ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e, depois, a Nova Délhi, na Índia, em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). O presidente também exonerou da interinidade da Secretaria Executiva da pasta Fernando Moura, que volta a ser secretário-adjunto. O posto de 02 da Casa Civil será exercido por Antônio José Barreto de Araújo Junior.
A desidratação de Lorenzoni pegou muitos de surpresa. Afinal, desde a campanha eleitoral, ele faz parte do núcleo duro do governo. Após a vitória nas urnas, coordenou a equipe de transição como ministro extraordinário. Alguns governistas alegam que a transferência do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia faz parte do processo de reestruturação da Presidência e partiu de uma análise de Estado para impulsionar a atração de investimentos externos, em favorecimento ao ministro Paulo Guedes.
O movimento adotado pelo presidente Jair Bolsonaro, entretanto, não convence parlamentares, sobretudo do DEM, partido de Lorenzoni. “Ele é Bolsonaro, não Democratas”, ponderou um congressista. A leitura feita na legenda e em outras siglas é de que ele sofre retaliação pelo alinhamento construído com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Foi Lorenzoni o responsável por articular a formulação do Projeto de Lei Orçamentária (Ploa) com apoio dos presidentes das duas Casas e do titular da Secretaria Especial de Relações Governamentais da Casa Civil, Giácomo Trento. “O Onyx, por mais que possa ser a favor do Bolsonaro, é um cara que vai se articular. Ele não deixou de ser amigo do presidente porque atende demandas do Rodrigo ou do DEM”, ponderou um parlamentar.
Entre governistas, contudo, a leitura é outra. Por mais que sustentem que Lorenzoni não sofre uma retaliação, alertam que, na formulação do Ploa de 2020, ele incluiu um orçamento para destinação de emendas parlamentares — mesmo as impositivas — acima do que deveria. Argumentam que a conta não fecha. E na votação da reforma da Previdência, o ministro já havia prometido acordos impossíveis de serem cumpridos, como destinação de emendas parlamentares.
O esvaziamento a Lorenzoni tem ocorrido paulatinamente. De superministro que era, no início da gestão Bolsonaro, enfrenta agora o descenso. Ele começou como responsável pela articulação política, que acabou indo para a Secretaria de Governo, e como encarregado da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), que foi para a Secretaria-Geral. Agora, ficará encarregado da articulação de governo, ou seja, a interlocução e a comunicação entre ministérios, e de nomear e exonerar cargos, ambas atribuições históricas da pasta. (RC e IS)
Bolsonaro vai a hospital
O presidente Jair Bolsonaro deu entrada no Hospital das Forças Armadas (HFA), entre o Sudoeste e o Cruzeiro, no começo da noite de ontem. De acordo com uma fonte ouvida pelo Correio, o chefe do Executivo foi levado para o oitavo andar da unidade de saúde, onde fica a ala de cirurgia. Bolsonaro entrou andando, acompanhado por seguranças. Segundo informações obtidas pela reportagem, o presidente passou por exames. Até o fechamento desta edição, o Planalto não informou o motivo da ida dele ao hospital. O chefe do Executivo teria reclamado de incômodo na barriga, durante o voo de volta de Minas Gerais, onde sobrevoou áreas atingidas pelas chuvas (leia reportagem na página 5). Ao retornar ao Palácio do Planalto, ele foi atendido por um médico e encaminhado para exames no HFA, sob acompanhamento do cardiologista Ricardo Peixoto Camarinha. O presidente deixou o HFA às 20h26. No mês passado, o presidente esteve no hospital para realizar exames de rotina. Ele monitora a saúde desde que foi vítima de uma facada durante a campanha eleitoral, em setembro de 2018.