Politica

A Viúva virou noiva da Cultura

Atriz Regina Duarte aceita participar de uma %u201Cfase de testes%u201D na Secretaria Especial de Cultura e diz que está %u201Cnoivando%u201D com a gestão Jair Bolsonaro. Ela virá a Brasília amanhã para conhecer a estrutura da pasta e, eventualmente, montar a equipe



A atriz Regina Duarte fala em período de “testes” na Secretaria Especial de Cultura, mas o governo não está preocupado com o termo. Ontem, em conversa no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, ela mesma confirmou ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que daria entrada na solicitação de rescisão contratual com a TV Globo. O atual vínculo iria até junho, mas ela manifestou o desejo de embarcar no projeto e abraçar a política cultural.

Muito se especulou dentro da ala bolsonarista do PSL e no próprio Palácio do Planalto que o governo poderia promover uma reestruturação na Esplanada dos Ministérios e voltar a Secretaria Especial de Cultura ao antigo status, de ministério. Na conversa entre Bolsonaro, Ramos e Duarte, isso não entrou em pauta. A intérprete da Viúva Porcina na novela Roque Santeiro chegou a brincar com a ideia, dizendo “quem dera fosse ministra”, mas em tom descontraído. Em nenhum momento, colocou isso a sério, como um pedido ou barganha para assumir o posto, disse um assessor.

Tampouco preocupou o Executivo a ideia de um “período de testes”. “É lógico, ela aceitou, mas ainda quer conhecer a pasta e tomar pé de toda a estrutura organizacional”, explicou um interlocutor governista. Não é para menos o interesse de Regina Duarte. Ela será a responsável pela gestão de seis secretarias, seis escritórios regionais e sete entidades vinculantes, sendo quatro fundações e três autarquias, como a Agência Nacional do Cinema (Ancine).
 
 
Regina Duarte vem a Brasília amanhã para conhecer a estrutura e conversar com técnicos da pasta. Somente depois de estar a par de tudo começará a montar sua equipe. A atriz deverá se reportar diretamente a Bolsonaro. “Ela está vindo para realizar um projeto em uma área que ama. Está muito bem consciente da relevância do cargo e convencida da importância disso para o Brasil”, destacou o interlocutor. Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) informou que a atriz admite estar “noivando” com o governo. Bolsonaro, por sua vez, reforçou a analogia. “Fiquei noivo da Regina Duarte. Tivemos uma conversa, foi bacana”, afirmou, ontem, no Palácio da Alvorada, após retornar do Rio de Janeiro.

Não é só o governo que reconhece o desejo de Regina Duarte de participar de um projeto para o desenvolvimento da cultura nacional. Amigos da atriz confirmam que ela se despiu de vaidades e não tem ambição de ser ministra. “Não é algo que exige. Ela é super-humilde. Reconhece que não tem conhecimento em gestão pública, então, não vai ‘chegar chegando’”, explicou uma pessoa próxima. “O perfil vai ser de entender como funciona, ver quem são os players, quais são as áreas embaixo dela, quais as funções e quem são os parceiros com quem ela pode contar.”

O convite a Regina Duarte não foi o primeiro. Bolsonaro foi apresentado à atriz pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) ainda na campanha eleitoral. Depois da vitória nas urnas, a convidou para integrar o governo, ainda que em tom de brincadeira. Ela disse, contudo, que não se sentia segura para isso. Os mais próximos dela admitem o reconhecimento do governo ao convidá-la, mas questionam até que ponto ela pode ser valorizada.

É notório que Regina Duarte recebia da TV Globo um salário acima do teto de gastos do funcionalismo, de R$ 39,3 mil. Como ministra, ela seria remunerada em R$ 30.934, contra R$ 15.359, pagos ao posto que ocupará. Um amigo, assim, ponderou os rumos que o governo pode adotar para valorizá-la com elementos além da remuneração. “A ‘contratação’ é meio que parecida com a do (ministro Sérgio) Moro. Ele largou uma carreira estável para fazer parte de um projeto e isso tem de ser algo estável para a Regina”, frisou.

Transferência
Um afago que o governo pode fazer por Regina Duarte é transferir a Secretaria Especial de Cultura para o Ministério da Educação ou para a própria Presidência da República, sugeriu uma amiga. “Na visão dela, cultura tem a ver com educação, desenvolvimento intelectual. Até tem um pouco a ver com turismo e cidadania também, mas muito mais com educação e desenvolvimento humano”, disse. “Por isso, acho que ela não fica nem no (ministério do) Turismo nem Cidadania (ministério). Ou fica na Educação, ou com o presidente”, ressaltou.

A dúvida é se ela manterá integrantes polêmicos da pasta, como o presidente da Funarte, Dante Mantovani, que chegou a ligar rock a droga, sexo, aborto e satanismo. Outro que gerou controvérsia foi Sérgio Nascimento de Camargo, cuja nomeação para a presidência da Fundação Palmares foi suspensa pela Justiça. Ele criticou o movimento negro e disse que a escravidão foi benéfica para os descendentes. 

Discurso nazista
O comando da Cultura no governo está vago desde sexta-feira, quando Bolsonaro cedeu a pressões e demitiu o dramaturgo Roberto Alvim, que havia parafraseado em discurso o nazista Joseph Goebbels. Após a exoneração, o ex-secretário compartilhou mensagem no WhatsApp dizendo desconfiar de uma “ação satânica” por trás do vídeo e de sua demissão. Em um vídeo com o discurso citando Goebbels, Alvim usou como trilha uma das obras favoritas de Hitler, a ópera Lohengrin, do compositor Richard Wagner, que, segundo o Führer, foi muito importante em sua vida.