A citação de trechos do ideólogo nazista Joseph Goebbels foi o último ato da conturbada passagem do dramaturgo Roberto Alvim no governo do presidente Jair Bolsonaro. Conservador, Alvim é discípulo de Olavo de Carvalho e gozava de grande prestígio junto ao chefe do governo. Em live transmitida nas redes sociais na quinta-feira, o presidente sentenciou: “Ao meu lado, aqui, o Roberto Alvim, o nosso secretário de Cultura. Agora temos, sim, um secretário de Cultura de verdade. Que atende o interesse da maioria da população brasileira, população conservadora e cristã”.
Antes de comandar a Secretaria Especial da Cultura, o dramaturgo já havia trabalhado à frente do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Funarte. A aproximação com Bolsonaro ocorreu à época da campanha presidencial de 2018, quando Alvim declarou apoio ao então candidato do PSL. Quando estava na Funarte, Alvim costumava destacar a necessidade de se combater o “marxismo cultural”, uma expressão amplamente utilizada na Alemanha nazista. Também à frente da fundação, ele provocou forte reação da classe artística ao atacar, com ofensas, a atriz Fernanda Montenegro. Nas redes sociais, a chamou de “intocável” e “mentirosa”.
Alvim, como a maior parte dos ministros e secretários do governo, foi convidado para integrar a equipe após demonstrar alinhamento com ideais conservadores.
Por essa razão, quando o presidente o nomeou para comandar a pasta de Cultura, em novembro, disse que Alvim teria “porteira fechada”. O secretário imprimiu uma guinada conservadora na administração da área. Nomeou membros da Cúpula Conservadora das Américas e defensores da promoção de filmes com valores patrióticos e de preservação da família. Também esvaziou a Ancine, a Agência Nacional de Cinema.
Alvim nomeou ainda o jornalista Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares. A escolha gerou uma grande onda de protestos, já que, em postagens nas redes sociais, Camargo pediu o fim do movimento negro e afirmou que a escravidão no Brasil foi “terrível”, porém “benéfica” para os descendentes. “Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África”, escreveu. Em meio às repercussões, a Justiça suspendeu a nomeação do jornalista. E o presidente Bolsonaro decidiu revogá-la.
O vídeo de inspiração nazista encerrou o mandato de Alvim marcado por turbulências.
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo — ou então não será nada.
Roberto Alvim, 16 de janeiro de 2020