O Congresso Nacional reagiu em peso contra o vídeo divulgado pelo secretário especial da Cultura do governo federal, Roberto Alvim, no qual ele faz um discurso para anunciar a liberação de R$ 20 milhões para o Prêmio Nacional das Artes e imita trechos de um discurso feito em 1933 pelo ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels.
Horas depois da publicação do vídeo na página oficial da Secretaria Especial da Cultura no Twitter, Alvim foi exonerado do posto pelo presidente Jair Bolsonaro.
A maioria das manifestações aconteceu pelas redes sociais. A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) alertou que "não podemos naturalizar o absurdo". Para ela, o "discurso criminoso e retrógrado" de Alvim "não representa o povo brasileiro". "Roberto Alvim utilizar estética nazista e discurso de Goebbels é repugnante e inaceitável. Alvim nunca teve dignidade para ocupar o cargo de Secretário de Cultura do Brasil", criticou.
O trecho do discurso do ministro nazista está relatado no livro "Joseph Goebbels: Uma biografia" (Ed. Objetiva), escrito pelo historiador alemão Peter Longerich. Além da citação feita por Alvim, a música de fundo do vídeo divulgado nesta sexta-feira (17/1) é um trecho da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, uma obra que Hitler contou em sua autobiografia ter sido decisiva em sua vida.
Erika Kokay ainda considerou como "inaceitável" a postura do secretário da Cultura. "Ao empregar parte de texto de Goebbels e ópera de Wagner, fundo musical preferido de Hitler, para noticiar seus planos para a cultura brasileira, Roberto Alvim, Secretário de Cultura, escancara de vez a face neonazista e criminosa deste desgoverno de Jair Bolsonaro", comentou a deputada.
Colega de bancada de Kokay, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), alertou que "um servidor público usando dinheiro dos contribuintes e estrutura do Estado para fazer apologia ao nazismo. Se Bolsonaro não o demitir, será cúmplice desse crime". "A estética é nazista. A música, de Wagner, uma das preferidas de Hitler. Há trechos exatos de discurso de Goebbels", lamentou.
Alexandre Padilha (PT-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP) também se posicionaram. "Quem copia nazista não pode ter espaço ou voz em um governo democrático", disse Padilha. "O secretário de cultura do Bolsonaro revelou sua convicção nazista. Inadmissível. Tem que ser demitido!", reforçou Teixeira.
Por sua vez, o deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ), classificou o vídeo como "a maior crise da democracia desde 1964". "Secretário de cultura de Bolsonaro faz discurso nazista, citando um nazista, com estética nazista. Não há qualquer dúvida. Estamos diante de uma ameaça concreta à democracia", destacou o parlamentar.
Além disso, ele lembrou outras ações polêmicas do governo federal relacionadas à cultura. "Bolsonaro fechou conselhos, promoveu censura na cultura, inviabilizou pesquisas, perseguiu professores. Agora, seu secretário de cultura cita um nazista e copia uma propaganda nazista para falar do governo."
"Governo de insanos"
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reprovou o ato de Alvim e disse que o vídeo "é mais do que grave, é inaceitável". "O secretário Roberto Alvim deve ser demitido imediatamente! Já não bastasse sua incompetência, é inadmissível a continuidade de um gestor que faz qualquer referência ao nazismo. Governo de insanos!", ponderou.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) considerou como "inadmissível, repugnante e patológica a atitude de Roberto Alvim, de copiar o discurso de um nazista". "Além disso, ao ressaltar que a arte brasileira será profundamente vinculada às aspirações urgentes do povo, ele a descaracteriza como uma manifestação da criação e da liberdade para transformá-la em um instrumento pró-ditadura".
Sampaio ainda opinou que "é inconcebível que o governo mantenha no cargo alguém que se inspire em uma ideologia que foi responsável por uma das maiores barbáries contra a humanidade e condenada em todo o mundo". "O mínimo que se espera é sua imediata demissão”, frisou, antes da exoneração do então secretário.