O titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, continua no cargo até segunda ordem. Foi o que afirmou o presidente Jair Bolsonaro, embora tenha sinalizado que o exoneraria caso fosse identificado algo irregular ligado a ele. A Folha de S. Paulo publicou reportagem denunciando o integrante do governo por ser beneficiário de dinheiro de emissoras de tevê e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria. O repasse seria feito, conforme o jornal, por meio de uma empresa da qual ele é sócio, a FW Comunicação e Marketing.
Em nota, a Secom informou, na quarta-feira, que Wajngarten se afastou da gestão da empresa e nomeou um administrador. Disse, ainda, que os contratos que ela mantém com diferentes veículos de comunicação e agências de publicidade ocorreram “bem antes” de ele assumir o cargo no governo. Em discurso, o secretário chamou a reportagem de fantasiosa. Ele frisou que “continuará enfrentando grupos monopolistas e poderosos”, enquanto Bolsonaro o quiser no cargo.
O respaldo do chefe do Executivo veio nesta quinta-feira (16/1). “Se for ilegal, a gente vê lá na frente, mas, do que eu vi até agora, está tudo legal com o Fabio. Vai continuar, é um excelente profissional. Se fosse uma porcaria, igual a alguns que têm por aí, ninguém o estaria criticando”, sustentou. Antes, Bolsonaro disparou contra o jornal paulista, chegando a adotar um tom agressivo com uma jornalista do veículo de comunicação ao ser questionado sobre o secretário.
Bolsonaro chegou a questionar a repórter se ela não tinha “vergonha na cara” para fazer a tradicional portaria no Palácio da Alvorada, onde jornalistas ficam no aguardo da saída dele. Em seguida, tentou se retratar. “Eu sei que você não é dona da Folha, desculpa. Não tenho nada contra você, está cumprindo aqui o seu papel para tentar infernizar o governo. Qual é pauta positiva que a Folha teve no governo até hoje? Nada, zero”, acusou.
Também nesta quinta-feira (16/1), durante um evento à tarde, Bolsonaro disse para a imprensa tem de “tomar vergonha na cara”. “Essa imprensa que está me olhando, não tomarei nenhuma medida para censurá-los, mas tomem vergonha na cara. Deixem nosso governo em paz, para levar harmonia ao nosso povo.”
Ele afirmou que a imprensa não noticia as boas ações do governo. “Há pouco, falaram da taxação do aço. Quando não teve, nenhuma linha. Há pouco, nos atacaram pelo fato de a Argentina ter prioridade para entrar na OCDE. Conseguimos mudar a situação, a imprensa não diz nada. Ninguém fez mais que nosso governo nos últimos anos”, disse.
Campeão de ofensas
Bolsonaro, por sinal, responde por grande parte das hostilidades contra a imprensa no ano passado. Os ataques a veículos de comunicação e a jornalistas deram um salto de 54% em 2019 na comparação com 2018. De acordo com levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), foram registradas 208 ocorrências de ofensas e agressões diretas contra jornalistas em 2019, contra 135 no ano anterior. O chefe do Palácio do Planalto foi o responsável por 121 casos.
Nas contas da Fenaj, Bolsonaro provocou 114 ofensivas genéricas e generalizadas, além de sete casos de agressões diretas a jornalistas. A maioria dos ataques do mandatário brasileiro foi feita em divulgações oficiais da Presidência da República (discursos e entrevistas do presidente, transcritos no site do Planalto) ou no Twitter oficial dele. De modo geral, os casos que envolvem o chefe do Executivo representaram 58,17% do total de agressões à imprensa contabilizadas em 2019.
“A postura do presidente da República — ou melhor, a falta dela — mostra que, de fato, a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil. O chefe de governo promove, por meio de suas declarações, sistemática descredibilização da imprensa e dos jornalistas. Com isso, institucionaliza a violência contra a imprensa e seus profissionais como prática de governo”, alertou a presidente da Fenaj, Maria José Braga.
Um dos exemplos aconteceu em 20 de dezembro. Naquela data, Bolsonaro saiu em defesa do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), suspeito de irregularidades quando era deputado estadual. Ao ser questionado por um repórter sobre o que faria se o filho tiver cometido algum deslize, o chefe do Planalto respondeu evasivamente em um tom provocativo um jornalista: “Você tem uma cara de homossexual terrível, mas, nem por isso, te acuso de ser homossexual. (...) Falam “se”, “se”, “se” o tempo todo”, criticou.
Em outro momento, Bolsonaro admitiu ter repassado R$ 40 mil à mulher, Michelle Bolsonaro, por meio de cheques feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, mas negou ter alguma nota comprovando o empréstimo. Perguntado sobre o comprovante, voltou a provocar um jornalista. “P., pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai. Você tem a nota fiscal desse negócio contigo no braço? Não tem. Tem a nota fiscal no teu sapato? Não tem, p.. Você tem lá no teu carro? Talvez tenha lá, mas não a nota fiscal”, retrucou. Já em 2020, o presidente disse que jornalistas são uma “raça em extinção” e que ler jornal “envenena”.
Outros resultados
Das demais formas de discriminação a jornalistas, subiu a quantidade de homicídio de profissionais. Os jornalistas Robson Giorno e Romário da Silva Barros, ambos com atuação em Maricá (RJ), foram assassinados. Em 2018, havia ocorrido um homicídio e, em 2017, nenhum. A instituição acrescentou que, das demais categorias de agressões diretas a jornalistas, também houve crescimento de episódios de injúrias raciais. Em 2019, houve dois casos de racismo e, em 2018, nenhum.
Os políticos foram os principais autores de ataques a veículos de comunicação e jornalistas, sendo responsáveis por 144 ocorrências (69,23% do total), a maioria delas tentativas de descredibilização da imprensa (114), mas também 30 casos de agressões diretas aos profissionais.
“Se for ilegal, a gente vê lá na frente, mas, do que eu vi até agora, está tudo legal com o Fabio. Vai continuar, é um excelente profissional. Se fosse uma porcaria, igual a alguns que têm por aí, ninguém o estaria criticando”, Jair Bolsonaro, presidente da República.