Politica

'Governos à esquerda implementaram política neoliberal'

Mais recente partido a receber registro eleitoral, o Unidade Popular (UP) se define como "socialista" e faz críticas a governos do PT. Segundo Leonardo Péricles Roque, presidente nacional da sigla, quando chegou ao poder, o PT aumentou juros, provocou desemprego e se desligou das bases. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Roque disse que conseguiu coletar as assinaturas para a criação do UP ao participar de discussões em porta de fábricas, favelas e praças públicas. Por que criar um partido e não se juntar a um já existente? Nos últimos anos, vários setores de esquerda tomaram um caminho de evitar embates históricos que, na nossa opinião, são necessários. E a principal crítica é o que a gente chama de conciliação de classes, que é propor conciliar interesses dos trabalhadores, do povo pobre, com os interesses dos bilionários, da classe dominante. O que o UP defende? A gente considera que é necessário romper o legado de um país dependente de exportação, de commodities, que vem destruindo a indústria. Mesmo governos à esquerda implementaram política neoliberal. Como enxerga a esquerda brasileira e o papel do PT? Em relação ao ex-presidente Lula, inegavelmente é um nome da esquerda que tem força no País. O governo dele fez uma política desenvolvimentista, as commodities estavam em um boom internacional, então não tinha crise. Nesse período é importante lembrar que o governo dele atendeu a interesses populares, dos trabalhadores, teve algumas medidas compensatórias, mas também atacou direitos. Principalmente a partir do governo Dilma (Rousseff) se iniciou uma política repressiva, aumento de juros, corte de investimentos, o desemprego começou a crescer. Mas a gente condena a perseguição que aconteceu para tirar o ex-presidente Lula da disputa em 2018. Há algum trabalho para atingir setores como o dos evangélicos? É mentira esse discurso de que todos os evangélicos são de direita. Pelo contrário, tem um setor importante na esquerda. Esse é um trabalho que a gente já faz. Uma parcela significativa (da população) é religiosa e sofre com o desemprego e a falta de políticas públicas. Qual avaliação o sr. faz do governo Jair Bolsonaro? É um governo de caos. Foi uma eleição não legítima, não só porque retiraram o ex-presidente Lula da jogada, mas pelos disparos de mensagens contratados que ainda não foram investigados da forma devida. Como foi o processo de formação do partido? Somos um dos frutos à esquerda das jornadas de junho de 2013. Não consideramos que as jornadas de junho foram um golpe da direita. Foi uma manifestação popular espontânea, a partir dos grandes problemas que o Brasil já vinha vivendo junto com efeitos mais profundos da crise econômica. Naquele processo, uma das questões de fundo foi a representação política. Depois de uma tentativa frustrada, em outubro de 2016 iniciamos o trabalho de coleta de assinaturas. Fomos às praças, vilas, favelas, ocupações, inclusive contrariando muita gente do campo político que vem falando que esse negócio de ir para porta de fábrica, de fazer panfletagem e ir de casa em casa são coisas do século passado. E deu certo? Nós achamos exatamente que esse é um dos grandes erros que a esquerda cometeu nos últimos anos, que é não fazer o chamado trabalho de base. E fizemos isso inclusive falando de coisas como socialismo, luta de classes, de movimento popular, da necessidade de fazer greve, de lutar, era esse o nosso discurso. Qual é a principal base do partido Unidade Popular? Os sem-teto são uma base importante que nós temos no partido que não têm representação política. Também a juventude. Essas são as duas representações mais fortes que nós temos, além do movimento de mulheres e do movimento sindical. E, dentro disso, o trabalho do ponto de vista racial também está bastante presente na nossa construção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.