Politica

Ex-dirigente do Pros falta a depoimento

Acusado de agredir a própria filha, Eurípedes Júnior, suspenso da legenda, não comparece a oitiva e pede suspeição do delegado que conduz o caso



O ex-presidente do Partido Republicano da Ordem Social (Pros) Eurípedes Júnior faltou a depoimento que estava marcado para ocorrer na tarde de ontem, na Delegacia de Atendimento à Mulher, em Planaltina de Goiás. Ele foi intimado pelo delegado Cristiomário Medeiros por supostamente ter agredido a própria filha na sede do partido. Em uma petição enviada pela defesa, Eurípedes informa que não compareceu à oitiva por conta de um compromisso em Brasília e diz que vai se manter em silêncio. Na peça, pede a suspeição do delegado, para que ele seja afastado do caso, por ser seu inimigo capital e “inclusive ter sugerido sua prisão”.

Cristiomário Medeiros afirmou que deve concluir o inquérito até o fim da semana. “Estou atendendo o pedido dele de ser ouvido. Mas essa questão de suspeição de delegado não existe. Principalmente no meu caso. Ele diz que eu sou inimigo capital, e eu não considero”, disse. O delegado foi candidato a prefeito da cidade goiana em 2016 e perdeu para um postulante do Pros. Neste ano, ele deve se candidatar novamente.

A filha de Eurípedes Júnior, de 19 anos, está sob medida protetiva concedida pela juíza Gisele Nepomuceno, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher do Distrito Federal. Mas a medida deve perder validade, pois a competência para julgar o caso é da Justiça de Goiás. O agressor tem de ficar, no mínimo, 200 metros de distância da vítima. Em depoimento à polícia, a garota afirmou que se encontrou com o pai no escritório dele. Chegando lá, ele pediu o carro dela e disse que pagaria R$ 15 mil pelo automóvel. Ela contou não ter aceitado a proposta e saído do local. No entanto, o político teria ido atrás da filha, tomado a chave do veículo e a agredido com tapas e pontapés.

A jovem relatou ainda que foi jogada no chão por Eurípedes Júnior e que ele levou o carro e atirou as coisas dela pela janela. A ocorrência foi registrada em Goiás e no Distrito Federal. “Ainda tenho pendente no Judiciário local pedido de medida protetiva e de busca e apreensão do veículo, pois entendo que ele não tentou obter a posse do veículo de maneira legal, por meio da Justiça”, completou Medeiros.

Suposto esquema
Eurípedes Júnior está no centro de um suposto esquema de corrupção no Pros. A Executiva Nacional do partido decidiu, no sábado, destituí-lo do cargo de presidente da legenda e suspender a sua filiação por três meses. No entanto, advogados dele alegam que a remoção do posto não tem validade legal. A reunião para tratar do assunto, realizada na sede da sigla, no Lago Sul, terminou em confusão, como revelou o Correio. O secretário do Pros, Edmilson Santana da Boa Morte, que integra o grupo opositor a Eurípedes Júnior, acusou um funcionário da legenda de tentar atropelá-lo a mando do ex-dirigente.

O político foi deposto da gestão da sigla por “diversas infrações disciplinares, especialmente por desviar recursos partidários e negociar a legenda em evidente prejuízo do partido e para auferir vantagens financeiras e pessoais”, de acordo com a certidão de suspensão. Ainda no cargo, ele foi alvo de uma série de reportagens do Correio em 2017. Na época, era acusado de utilizar dinheiro público para a compra de um helicóptero, mansões, um avião bimotor e de contratar funcionários terceirizados por meio de empresas de parentes.

Ao menos quatro denúncias contra Eurípedes Júnior foram apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Uma delas se refere ao helicóptero da fabricante Robinson, modelo R-66, prefixo PP-CHF, avaliado em R$ 2,8 milhões, que é utilizado para os deslocamentos do ex-vereador da cidade de Planaltina de Goiás, local onde o Pros foi fundado, até uma casa pertencente à legenda, no Lago Sul. Essa denúncia é um dos argumentos usados pela Executiva Nacional da sigla para afastá-lo da presidência.

De acordo com a assessoria do Pros, o atual presidente é Marcus Vinicius Chaves de Holanda. O Diretório Nacional do partido acabou dissolvido e uma Comissão Executiva Nacional Provisória foi criada para atuar até que uma nova Convenção Nacional seja realizada, para a eleição da próxima cúpula. No entanto, Eurípedes Júnior alega ainda ser presidente da sigla. “Trata-se de uma tentativa natimorta de golpe partidário, que não resiste a uma análise jurídica mínima, e se deu ao arrepio do estatuto partidário, de suas resoluções, da legislação de regência e de princípios básicos da Constituição Federal”, informou a defesa dele.

Divisão
Até mesmo as redes sociais do Pros estão divididas. A conta Pros no Congresso, no Twitter, foi utilizada para publicar notas de apoio a Eurípedes Júnior por parte de parlamentares da sigla na Câmara e no Senado. Desde 2014, quando elegeu 11 deputados, a sigla passou a receber cerca de R$ 17 milhões por ano de verba pública destinada a custear gastos dos partidos.


Saiba mais
Desvios
Em 2018, Eurípedes Júnior foi alvo da Polícia Federal. A prisão dele foi decretada na Operação Partialis, deflagrada para combater o desvio de recursos públicos na aquisição de gases medicinais em Brasília e no Pará. De acordo com a PF, os envolvidos no esquema desviaram R$ 2 milhões em contratos com o setor público. O político passou cinco dias foragido até se apresentar à superintendência da corporação, em Brasília, mas foi liberado em seguida, graças a uma estratégia jurídica. O Código Eleitoral proíbe a prisão de eleitores em um período de cinco dias antes do pleito. Ele se apresentou em 27 de outubro de 2018, três dias antes do segundo turno das eleições.