Jornal Correio Braziliense

Politica

Economia dita correção de rumos


Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Juliano da Silva Cortinhas avalia que, ao se alinhar incondicionalmente aos Estados Unidos, o Brasil abandonou, por um momento, o ;jogo da política internacional;. Cortinhas também considera a possibilidade de o Brasil deixar o Mercosul. ;Diante do grande amadorismo da atual política externa, há chances de isso ocorrer, mas seria um erro profundo. O Mercosul vem sendo construído desde 1991. Esperava-se que fosse algo maior, mas, se o Mercosul não caminha bem, cabe ao Brasil, que é um líder natural do bloco, corrigir o rumo da forma que melhor convier aos países-membros, e não abandonar o acordo;, afirma.

O prpfessor acredita que as ondas de protestos em países da América Latina podem chegar ao Brasil, mas diz que, se o cenário econômico melhorar, pode retardar ou amenizar esses movimentos. ;Vejo como um processo natural a possibilidade de isso ocorrer. Não só porque há uma série de problemas na condução da política no Brasil, com ataques a minorias e tensões na relação entre governo e sociedade, mas porque existe, no mundo todo, uma insatisfação popular com os mais diferentes tipos de governo. Não é um processo ligado a ideologias políticas. As populações estão insatisfeitas com a forma que a política vem sendo feita. Isso se acentuou na última década;, afirma.

Otimismo

Economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Rochlin, por sua vez, destaca que más escolhas podem trazer prejuízos econômicos para o país, mas demonstra otimismo com as mudanças de postura mostradas pelo governo nos últimos meses. ;Espero que, nos próximos anos, o governo tenha uma visão mais pragmática da política de comércio exterior. Ignorar nossos principais parceiros é ingênuo. O governo parece dar sinais de recuperação da sensatez. Algumas relações que se degeneraram estão sendo revistas. O presidente acabou de visitar a China e países árabes. Foi uma mudança de postura. O mesmo aconteceu com a ida do vice-presidente Mourão à posse do novo presidente da Argentina;, diz.

;Demonstrar animosidade em relação à Argentina é contraproducente, pois o país é nosso terceiro maior parceiro comercial. E o governo deve repensar a postura de alinhamento automático com os EUA. Os interesses não são coincidentes. Por bem ou por mal, o governo vem sendo obrigado a rever posições;, observa.

Para Rochlin, está mais do que na hora de o presidente e o Itamaraty diminuírem o clima de atrito, que pode prejudicar as exportações em um período em que o mercado internacional tem se retraído. Os países árabes são importadores de carnes. Não dá para apoiar Israel. Não dá pra ignorar a China como grande importador de minério de ferro, carne e soja. ;Temos dois pontos de atrito para resolver: EUA e Argentina. A sobretaxa (dos EUA) ainda não se concretizou, mas pode ser um ponto de fricção e um sinal de alerta. O governo tem que cair na real. Nosso apoio não se traduziu em qualquer tipo de benefício.;

O professor também faz um alerta sobre a eventual saída do Brasil do Mercosul. ;Perderíamos importantíssimos parceiros comerciais. Quando a gente fala de comércio exterior, tem de pensar a longo prazo. A Argentina pode se tornar um mercado similar ao norte-americano. Há algum tempo, eles importavam da gente mais do que os Estados Unidos;, destaca.