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DiCaprio rebate Bolsonaro

Ator se posicionou após ser acusado pelo presidente de financiar incêndios na Amazônia. Ele nega ter enviado recursos a ONGs investigadas pela Polícia Civil do Pará. Quatro brigadistas são suspeitos de terem incendiado área da região para negociar venda de fotos

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O ator e ambientalista norte-americano Leonardo DiCaprio não deixou passar as acusações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro de que tenha feito doações a Organizações Não-Governamentais (ONGs) suspeitas em investigações sobre incêndios na região amazônica. O artista frisa que, ;embora dignas de apoio;, ele não financia as ;organizações citadas;. O chefe do Executivo federal não declarou nada sobre o assunto ontem, mas, na sexta-feira, sem apresentação de provas, disse que o ativista deu dinheiro para ;tacar fogo na Amazônia;.

A resposta de DiCaprio foi dada ontem, em nota publicada em seu perfil do Instagram. O ator destacou que, ;neste momento de crise para a Amazônia;, apoia o ;povo do Brasil que trabalha para salvar seu patrimônio natural e cultural;. ;Eles são um exemplo incrível, comovente e humilde do compromisso e paixão necessários para salvar o meio ambiente;, declarou. Sem fazer qualquer menção nominal a Bolsonaro, considerou, ainda, que o ;futuro desses ecossistemas insubstituíveis está em jogo;, reiterando, assim, o ;orgulho de apoiar os grupos que os protegem.;

O premiado ator, contudo, garantiu que, diferentemente do que alega Bolsonaro, não deu dinheiro a nenhuma ONG. ;Embora dignas de apoio, não financiamos as organizações citadas. Continuo comprometido em apoiar as comunidades indígenas brasileiras, governos locais, cientistas, educadores e as pessoas que estão trabalhando incansavelmente para garantir a Amazônia para o futuro de todos os brasileiros;, declarou, em nota.

Embora não cite quais são as ;organizações citadas;, o ator faz referência à WWF e à ONG Projeto de Saúde e Alegria, alvos de inquérito sob os quais Bolsonaro ancora suas acusações. A Polícia Civil do Pará investiga quatro brigadistas da região de Alter do Chão, presos sob suspeita de atearem fogo na região amazônica paraense. São acusados, ainda, de venderem imagens das supostas queimadas provocadas por eles para ONGs, como a WWF, que, por sua vez, teriam usado as fotos para conseguir doações, como os donativos enviados por DiCaprio em agosto deste ano.

A investigação da polícia paraense se baseia em escutas telefônicas. Em uma interceptação, o diretor da ONG Projeto de Saúde e Alegria, Gustavo Fernandes, diz a uma pessoa identificada apenas como Cecília que ele ;está por trás de tudo;. Na sequência, ele se identifica como membro da brigada de Alter do Chão, sustentando, ainda, que está ;recebendo apoio de todo mundo;. Os quatro brigadistas investigados ; entre eles, Gustavo ; foram presos na terça-feira, mas liberados na quinta-feira. Os advogados sustentam que as escutas não comprovam as acusações.

Repercussão

A WWF sustentou que os recursos enviados à brigada Alter do Chão não incluíram doações de DiCaprio, que, segundo informa a organização, também não comprou fotos, nem pôs fogo na Amazônia. A ONG lamentou, contudo, que o presidente insista em ;divulgar inverdades.;

O caso repercutiu no Pará e no mundo. O governador, Helder Barbalho (MDB) ordenou a troca no comando das investigações. O delegado que presidia o inquérito, Fábio Amaral Barbosa, foi substituído ainda na quinta ; antes de os brigadistas serem soltos ; pelo diretor da Delegacia Especializada em Meio Ambiente, Waldir Freire Cardoso. O Ministério Público Federal (MPF) pediu acesso ao inquérito, a fim de analisar o processo judicial. A intenção é verificar se a competência sob a Operação Fogo do Sairé é federal ou estadual. Já a imprensa internacional classifica os ataques de Bolsonaro como uma ;campanha governamental mais ampla contra grupos ambientais sem fins lucrativos que operam no Brasil;, segundo o The New York Times.




PGR não vê obstrução
O procurador-geral da República, Augusto Aras, se posicionou contra a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar se o presidente Jair Bolsonaro e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC) cometeram crime de obstrução de Justiça no âmbito das investigações sobre a morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSol). Bolsonaro admitiu ter pego gravações de chamadas feitas no dia da morte de Marielle entre a portaria e as casas do condomínio Vivendas da Barra ; onde mantém residência no Rio de Janeiro ; antes que elas pudessem ser ;adulteradas;. Já o ministro Gilmar Mendes, do STF, revogou decisão que paralisou investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (RJ).