Depois de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgar dados graves sobre o desmatamento da Amazônia, no início desta semana, o presidente Jair Bolsonaro comentou o assunto ontem pela primeira vez. Ao responder sobre medidas para reduzir os números, na saída do Palácio do Alvorada, afirmou que essa devastação no Brasil é ;cultural;. A declaração preocupou ONGs e especialistas, que afirmam que o discurso do governo incentiva a prática ilegal.
Ao ser questionado sobre uma possível conversa com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para que abordassem medidas para diminuir os números do desmatamento, Bolsonaro respondeu: ;Olha, você não vai acabar com o desmatamento, nem com queimadas. É cultural;. E emendou: ;Eu vi a Marina Silva criticando anteontem. No período dela (como ministra), tivemos a maior quantidade de ilícitos na Região Amazônica.;
Ainda na conversa com os jornalistas, Bolsonaro disse que o governo pretende entregar a posse das áreas para os proprietários. ;Nós queremos é titularizar as terras. Daí, uma vez havendo o ilícito, você sabe quem é o dono. Hoje em dia você não sabe;, ressaltou.
A declaração veio dois dias depois de o Inpe mostrar que o desmatamento na região alcançou a maior taxa dos últimos 10 anos: aumento de 29,5% entre 1; de agosto do ano passado e 31 de julho deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores.
Já Salles afirmou ontem que o Brasil usará a Conferência do Clima deste ano (COP-25), em Madri, para buscar recursos estrangeiros para a área ambiental ;que foram prometidos e até agora não recebemos;. A cobrança foi durante uma reunião com governadores da Amazônia Legal.
;Nós não concordamos que o Brasil não está indo bem nas suas metas, ao contrário. O Brasil está indo bem, já avançou muito na redução do desmatamento.; A reunião do ministro foi depois de Bolsonaro dizer que queimadas e desmatamento são um problema ;cultural;. Salles não respondeu sobre o aumento das derrubadas na Amazônia e não disse qual é a meta do governo pela redução.
Ambientalistas reagem à declaração
O diretor-executivo do WWF-Brasil, Maurício Voivodic, considera que o discurso de Jair Bolsonaro incentiva o desmatamento irregular. ;É a primeira vez que um presidente do Brasil diz que é cultural realizar crimes, que acontecem por falta de fiscalização, incentivada por este discurso;. O presidente da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), também repudiou. ;O desmatamento na Amazônia não é cultural. É provocado principalmente pelo discurso atrasado do presidente;. Já o Greenpeace reagiu às medidas passadas por Ricardo Salles, no encontro com governadores. ;Fica claro que temos um governo incapaz em lidar com a atual crise do aumento do desmatamento.;