Jornal Correio Braziliense

Politica

Nomeação polêmica na Cultura

Bolsonaro transfere secretaria para o Ministério do Turismo e coloca dramaturgo que criticou Fernanda Montenegro na chefia do órgão

[FOTO1]


O governo anunciou ontem a transferência da Secretaria Especial de Cultura do Ministério da Cidadania para o do Turismo e a nomeação do dramaturgo Roberto Alvim para chefiar o órgão. Atual diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em setembro, ele protagonizou uma intensa polêmica ao atacar, com ofensas, a atriz Fernanda Montenegro. Em publicação em uma rede social, chamou a artista de ;intocável;, ;mentirosa; e ;sórdida;, gerando reações na categoria artística.

Alvim será o terceiro a comandar a Cultura em menos de 11 meses do atual governo. A escolha dele foi definida pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Ontem, no retorno ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Alvim terá ;porteira fechada; para a tomada de decisões. O presidente ainda ironizou, dizendo que ;a classe artística vai ficar feliz;. ;Tá na mão de um tal de Alvim. Porteira fechada para ele, falou? A classe artística vai ficar feliz, aí. Lei Rouanet. Tem muita coisa boa vindo por aí;.

O presidente ainda comentou que o novo secretário deve implementar mudanças na Biblioteca Nacional e na Agência Nacional do Cinema (Ancine). Em nota, o Ministério do Turismo afirmou que turismo e cultura ;possuem pautas sinérgicas e atividades naturalmente integradas;. De acordo com a nota, a cultura é um dos ;principais atrativos turísticos do país;, sendo responsável por ;grande parte da movimentação de visitantes nacionais e internacionais;.

As mudanças na secretaria não foram bem-recebidas pela oposição. A líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), classificou como uma ;ideia ridícula; ter Alvim comandando a pasta. ;Bolsonaro só reforça sua ignorância. Depois de ofender Fernanda Montenegro, Alvim na pasta mais importante do setor é uma afronta aos artistas, produtores, diretores, criadores e fazedores da nossa cultura. Fora, Alvim!”, declarou, em mensagem publicada no Twitter.

O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), foi outro a protestar. ;É uma barbárie o que Bolsonaro faz com a cultura! Seus ataques reiterados são resultados de uma mente vil, fadada ao retrocesso, de onde a mente dele nunca saiu! Jamais avançaremos sem uma cultura forte. Jamais avançaremos com um governo que odeia a cultura!”, criticou, também em publicação no Twitter.

Trajetória
O dramaturgo e Bolsonaro se aproximaram depois de o chefe do Executivo federal ter tomado conhecimento de que o artista teria sido perseguido por apoiá-lo na campanha eleitoral. Alvim alegou ter sido vítima de uma ;campanha difamatória feita por toda a classe artística brasileira;, que, segundo disse, tachou ele e sua mulher, Juliana, de ;fascistas, nazistas, homofóbicos e racistas;. Em junho, ele foi anunciado na Funarte.

Além de Alvim, o governo considerava nomear para o cargo o ex-deputado Marcos Soares (DEM-RJ), filho do missionário R.R Soares, líder da Igreja Internacional da Graça. O secretário da Diversidade Cultural da Secretaria, Gustavo Amaral, também era cotado.