Durante a gravação, o deputado diz que a produção audiovisual "conta a história do Brasil" e "desagrada seu professor de história, que tenta te enviesar ideologicamente para que você acredite apenas no que ele diz". Em grupos de WhatsApp circulam, ainda, um texto com informações sobre o evento e uma imagem com o cartaz do filme.
Na foto, a exibição está marcada para esta quinta-feira (7/11), às 19h, na área atrás da Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia. No rodapé, há uma logo com o nome de Eduardo Bolsonaro e, na mensagem de texto, os espectadores são incentivados a levar cadeiras para assistir ao longa-metragem. O comunicado também fala de um projeto intitulado Cine Brasil, cujo objetivo é propagar, em praças públicas, a "verdade sobre os acontecimentos mais importantes" do país.
Apesar do agendamento, o Correio apurou que o evento não tem autorização para ser realizado. No DF, conforme estabelece a Lei Distrital n; 5.281/2013, atividades de caráter eventual ; sejam elas públicas ou privadas e que produzam reflexos no sistema viário ou na segurança pública ; precisam de autorização das administrações das respectivas regiões administrativas, com requerimento apresentado até 30 dias antes. Por meio de nota, a Administração Regional do Plano Piloto informou que "não há, no dia 7 de novembro, evento com licença para ocupação de área pública no local mencionado".
Indignação
[FOTO3]A ideia também não agradou a grupos de moradores da Vila Planalto. Para a jornalista e escritora Leiliane Rebouças, 44 anos, a exibição do filme representa um "desrespeito à história da população da Vila Planalto". "Somos vizinhos dos três palácios e somos testemunhas oculares de vários momentos da história do país. Não vejo de forma boa o filho do presidente da República trazer, para um local que sofreu com a ditadura no Brasil, um filme que deturpa a história", criticou.
Leiliane acrescenta que a ideia entre os que se indignaram não é impedir a exibição, mas repudiar a iniciativa. "Como alguém eleito democraticamente fala, em uma semana, sobre a implantação de um ato institucional inconstitucional e começa a querer apresentar filmes que mostram esse regime autoritário como algo bom? Nenhum regime autoritário é bom", completou a jornalista.
Uma professora e moradora da Vila Planalto que preferiu não se identificar afirmou que a comunidade da região não entendeu o motivo da escolha do local, principalmente por se tratar de um deputado eleito pelo estado de São Paulo. "Não queremos censura de forma alguma. Sabemos que o espaço é público. Mas não houve nenhum tipo de acordo e fomos surpreendidos com esse evento. Além de desrespeitar as regras administrativas, ele tem um viés político muito estabelecido", comentou.
Notas de repúdio
[FOTO5]"É inadmissível que qualquer pessoa defenda o Golpe Militar de 1964. Tratando-se de um deputado federal, eleito pelo povo, que tomou posse jurando defender a Constituição Federal, além de filho do presidente da República, é ainda mais grave", afirma o texto assinado por Arlete Sampaio.
Integrantes da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da CLDF, Fábio Felix, que preside o comitê, e Leandro Grass consideraram o convite uma "afronta à democracia".
"Nós, deputados distritais, repudiamos qualquer ato que reafirme ou defenda a ditadura no Brasil. Enquanto defensores da Constituição Federal, os parlamentares, sejam distritais, estaduais ou federais, devem prezar pela democracia. Qualquer atitude diferente desta deve ser repudiada", ressaltaram.
A assessoria do deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que daria um posicionamento sobre o caso nesta quinta-feira (7/11), mas não retornou as ligações da reportagem.