No caso do DEM, até o momento, é a disposição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), de tocar realpolitik, que garante a tramitação das pautas econômica de consenso e impede derrotas sucessivas ao governo. Já o MDB acumula a liderança do governo no Senado e no Congresso.
Mas a crise do PSL parece longe do fim. O presidente da legenda, Luciano Bivar, e seus correligionários lutam para minar o poder político dos filhos do chefe do Executivo. Há, ainda, um processo para expulsar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o que abriria caminho para o grupo recuperar a liderança da agremiação na Câmara. Um dos vice-líderes da legenda, Bibo Nunes (RS), tem defendido Eduardo no caso da declaração sobre um novo AI 5, mas afirma que a opinião oficial do partido é de repúdio a qualquer manifestação antidemocrática que considere a reedição de atos autoritários.
Para ele, embora não tenha base formada no Congresso, Bolsonaro ainda conta com maioria no partido, o que lhe daria certa comodidade no plenário. ;O presidente tem com ele a maioria absoluta. Dos 53 parlamentares, o presidente tem apoio de, no mínimo, 50, independente de ala. Acredito que os mais rebeldes sejam Joice (Hasselman), Bivar (Luciano), e o ex-líder (Delegado) Waldir. Mas acredito que até eles votem com o presidente. Eles deixam os nossos problemas de lado;, garantiu. Sobre as lideranças do MDB e a dependência dos presidentes da Câmara e do Congresso, Bibo minimizou. ;É uma opção do presidente. Se ele fez isso, tem motivo;, afirmou. Acredito que ele deveria abrir mais o leque para outros partidos. Seria interessante;, disse.
Faltou combinar
Da ala do presidente do partido, Luciano Bivar, Júnior Bozzella (SP) pensa diferente. Para ele, em um cenário pessimista, é possível que Bolsonaro perdesse até 24 votos no PSL, embora afirme não acreditar que isso possa ocorrer. Para ele, Bolsonaro não tem apoio automático em nenhum partido. ;Nem dentro do PSL, que nunca foi alienado. O que você tem é um grupo mais extremista, que se uniu agora (ao partido), que acaba se curvando e sendo mais submisso, se envolvendo nessas brigas de narrativas;, diz.
Bozzella coloca o PSL na mesma posição dos demais partidos na Câmara. ;Para efeito de votação, esse grupo que se rendeu (a Bolsonaro) deve ter um apoio mais cego. A ala mais equilibrada, independente e responsável, que não flerta com o autoritarismo e respeita as bandeiras da liberdade econômica e da democracia, não se curva, não se ajoelha. Apoia o governo no que é de interesse e convergente com a população. Tudo o que o governo conseguiu avançar (na Casa) se deve a essa maturidade. O Executivo não tem uma relação com a Câmara. Não facilita. Não respeita as instituições;, critica. ;Mas, jamais vamos fazer oposição ao povo brasileiro;, emenda.
Sobre a relação de Bolsonaro com o DEM e com o MDB, Bozzella ele vê incoerência com o discurso de campanha. ;A partir do momento em que o governo tropeça nas próprias pernas gerando uma crise a cada instante, acaba tendo de se render àquilo que condenava. Não digo se é certo ou errado, mas está remando contra a maré no que disse que ia fazer. Acaba ficando em uma sinuca de bico;, provoca.
Líderes de outros partidos na Câmara evitam falar do que acontece no PSL, mas confirmam o isolamento de Bolsonaro. Sem querer ser identificado, um parlamentar da oposição afirmou que chegou a ser procurado por um pesselista da ala de Bivar. O parlamentar tinha interesse em fazer denúncias contra adversários. Articulador do centro, o líder do PL, Wellington Roberto (PB), avalia que a usina de crises do Executivo o distancia dos aliados. ;A questão interna do PSL cabe aos líderes e ao presidente do partido. Agora, a situação do governo na questão de apoio fica mais difícil a cada dia. Não tem avanço;, ressalta.
O líder insiste que o discurso de ;velha política; está superado. ;Somos partidos do centro. Não somos de oposição. O MDB, o DEM e o PP. Isso de velha e nova política está superado. Segundo ele, a quantidade de vezes que o Executivo desmarca compromissos com parlamentares também é algo que complica.
Aumento da dependência
;Há um aumento do grau de dependência dos partidos (MDB e DEM), de uma forma parecida. Resta saber se vão condicionar o apoio. Por enquanto, não condicionaram, mas, se surgir com força, o governo terá um problema. A questão é saber se o MDB, mais do que o DEM, vai cobrar algum preço pelas votações no Congresso. As agendas que têm avançado são de consenso mais pela importância popular do que pela percepção de que são importantes para o governo;, avalia o analista político Creomar de Souza.
Em relação ao apoio dentro do partido, Souza acredita que Bolsonaro ainda possui metade da bancada. ;O partido tem 53 deputados. Ele está se aproximando da bancada porque tem pessoas que mudam de lado. O negócio é a coesão em torno de uma plataforma. O partido é muito novo. Na mesma legenda, tem mais forças olhando para lugares diferentes;, completa.
;Com a confusão no PSL, creio que (a dependência) possa aumentar. Essa fragilidade demonstrada no Congresso recrudesceu as relações mais amistosas com as outras legendas. Eles vão renegociar as posições e as conversas são independentes.
Bolsonaro vai encontrar resistência nas duas siglas. Estamos falando de um partido que tem a presidência das duas casas. E o MDB é mais forte na negociação com o centrão;, analisa o sociólogo Fábio Gomes. Para ele, a dependência do DEM e do MDB já existia antes e, com os problemas no PSL, a tendência é crescer.
Menina bonita
O casamento entre o presidente Jair Bolsonaro e o PSL chegou ao fim. O chefe do Executivo federal ainda não oficializou o desembarque da legenda, mas flerta com outra que ainda não existe, o Partido Militar Brasileiro. Questionado se cogita a transferência, ele fez uma analogia sobre relacionamento em que afirma estar solteiro. ;Sou menina bonita sem namorado. Fico muito feliz em ter vários convites;, declarou, ontem. A nova legenda é articulada pelo coordenador da bancada da bala no Congresso Nacional, deputado Capitão Augusto (PL-SP), e está em fase final de criação, aguardando apenas o aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao comentar sobre ;convites; recebidos, Bolsonaro confirma que não flerta apenas com o Partido Militar Brasileiro. Outro partido com quem ele mantém conversas é o Patriota, presidido por Adilson Barroso.