Augusto Fernandes, Denise Rothenburg, Ana Dubeux, Bernardo Bittar
postado em 03/11/2019 08:00
[FOTO1]No próximo 15 de Novembro, completam-se 30 anos da primeira eleição direta pós-ditadura de 1964. O país afundado numa crise econômica, o presidente José Sarney desgastado. Depois de uma longa campanha, com 22 candidatos, e no mano-mano com Lula, Fernando Collor de Mello torna-se o mais jovem brasileiro a tomar assento no terceiro andar do Planalto. ;É claro que, quando me elegi, eu disse: ;Bom, sou um um super-homem ( ;) Essa questão da eleição em que se ganha com uma disputa muito acirrada, e essa coisa toda, faz do vitorioso a primeira sensação de que: ;não, eu posso tudo. Agora, eu sou o maioral e, agora, todos os outros têm que se submeter à minha vontade, ao meu desejo;. Isso é um erro, e está acontecendo agora;, avalia o senador Fernando Collor, 70 anos, nesta entrevista exclusiva ao Correio, 30 anos depois. Em quase duas horas de conversa, na última quinta-feira, o ex-presidente repete inúmeras vezes a expressão ;já vi esse filme;. ;Parece que está passando novamente na minha frente. Certos episódios e eventos me deixam muito preocupado, talvez não cheguemos a um bom termo sobre o mandato mal exercido pelo presidente da República ; a começar por essa falta de interesse em construir uma base sólida de sustentação no Parlamento;, diz, ao avaliar que errou ao não colocar essa construção como prioridade desde o primeiro dia de seu governo. O desfecho foi o afastamento, em 29 de setembro de 1992, quando a Câmara aprovou a abertura do processo de impeachment. Torce agora para que o mesmo não aconteça com o atual ocupante do Planalto e alerta inclusive para o uso das redes sociais, algo que não havia na sua época: ;Isso é um perigo. O presidente incorre num erro grande, na minha avaliação, quando ele delimita a sua interlocução a um nicho de 15%, 20% da população, que são aqueles considerados bolsonaristas puros de origem. Eles não representam a nação brasileira;, afirma.
Collor menciona, ainda, que não guarda mágoas, porém, não esquece. Quanto a Lula, ele considera que está preso ;imerecidamente; e diz que se arrepende de ter levado Mirian, a mãe de Lurian, filha mais velha do petista, ao horário eleitoral gratuito de 1989, acusando o candidato do PT de lhe propor um aborto. ;Me arrependo. Se tivesse visto a gravação, não teria autorizado que aquilo fosse ao ar. Foi de muito mau gosto;, afirma.
Sua expectativa é que a história lhe julgue como um ;homem à frente do seu tempo;, referindo-se à abertura da economia e de mentalidade naquele início dos anos 1990, quando ele chamava os carros brasileiros de ;carroça;. ;Agora, esse termo serve para qualificar o presidencialismo. A seguir, os principais trechos da entrevista.