Com o governo federal mergulhado em mais uma crise política, governadores de sete Estados das regiões Sul e Sudeste decidiram atuar diretamente com as bancadas no Congresso Nacional para destravar pautas econômicas que consideram paralisadas em razão da falta de articulação do Palácio do Planalto.
Os governadores se reuniram nos últimos dois dias em Florianópolis (SC) durante encontro do Consórcio de Integração Sul Sudeste. "Falamos muito da importância de os governadores trabalharem para pacificar o País e manter contato com o Congresso Nacional lançando pontes para o governo federal que está com muitas dificuldades na articulação política", disse ao Estado o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
Ele e os governadores de São Paulo (João Doria), Rio de Janeiro (Wilson Witzel), Minas Gerais (Romeu Zema), Rio Grande do Sul (Eduardo Leite), Paraná (Ratinho Junior) e Santa Catarina (Carlos Moisés) participaram anteontem e ontem da reunião do Cosud na capital catarinense. Juntos estes Estados respondem por 56% da população de 70% do PIB do Brasil.
Ao final do encontro eles divulgaram a Carta de Florianópolis, com foco exclusivamente na economia. No documento, os governadores se comprometem a adequar as legislações locais à Lei da Liberdade Econômica e reduzir a burocracia estatal; defendem a revisão do pacto federativo por meio de uma reforma tributária e pedem a inclusão de Estados e municípios na PEC paralela à reforma das Previdência em tramitação no Senado.
O documento não fala em política, mas a crise que já se arrasta há mais de uma semana entre o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e a direção de seu partido, o PSL, permeou as reuniões fechadas e as entrevistas dos governadores. Segundo eles, o Brasil precisa de estabilidade em Brasília para seguir avançando na agenda de modernização e reformas da economia. A avaliação é que sucessivas oscilações políticas criadas pelo governo impedem a retomada do crescimento.
"Há um consenso de que o País neste momento precisa de paz, diálogo e entendimento. Sem isso nós não vamos evoluir nas pautas do Congresso nem nas necessidades reformadoras de um país com 13 milhões de desempregados, sete milhões de subempregados e que precisa retomar o crescimento em uma velocidade superior à deste primeiro ano de governo", disse o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Apontado como possível adversário de Bolsonaro na eleição de 2022, Doria disse que não se trata de propor uma agenda antagônica à do governo, mas de usar a influência dos governadores no Congresso.
"Nossa visão é que este entendimento (da pacificação) deveria se estender a todos, a começar por quem dá suporte ao governo federal no Congresso. Não é uma posição antagônica mas uma posição harmônica dos governadores", afirmou Doria.
Nordeste
Anteontem, governadores de oito dos nove Estados do Nordeste, em outro contexto, também chamaram a atenção para a responsabilidade de Bolsonaro de criar um ambiente de "serenidade, solidariedade e entendimento" em uma nota na qual prestam solidariedade ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), alvo de críticas de Bolsonaro.
"O País precisa de reunião de esforços para superar desafios. É fundamental que este compromisso, que todos esperamos ver cumprido pelos gestores públicos, não seja debochadamente ignorado por alguém que deveria ser uma de suas maiores referências", diz a carta assinada pelos governadores da Bahia (Rui Costa), Alagoas (Renan Filho), Camilo Santana (Ceará), Flávio Dino (Maranhão). João Azevedo (Paraíba), Wellington Dias (Piauí), Rio Grande do Norte (Fátima Bezerra) e Sergipe (Belivaldo Chagas).
A nota foi uma reação ao fato de Bolsonaro ter chamado Câmara de "espertalhão" e "desonesto" por reivindicar paternidade sobre a criação do 13º salário para beneficiários do Bolsa Família em outdoors. O governador diz que fez a promessa 40 dias antes do presidente na campanha do ano passado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.