Planalto observa
o faroeste caboclo
A ordem no Palácio do Planalto ao longo do dia de ontem era a de manter o silêncio sobre as declarações do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot a respeito do assassinato do ministro Gilmar Mendes. Entre os políticos mais próximos de Jair Bolsonaro, a avaliação é a de que o episódio tira o foco do presidente, principalmente nos casos relacionados às declarações polêmicas. Há poucas coisas mais controversas na política do que uma autoridade revelar que desejou matar um adversário, e mais ainda ter levado uma arma para a mais alta Corte de Justiça do país.
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A guerra, segundo o pessoal mais ligado a Bolsonaro, deveria se restringir ao Judiciário e ao Ministério Público. Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, não se conteve e arrancou risos do público de seminário no Rio ao dizer que a PF deveria tirar o porte de arma do ex-procurador. Como o tema deve dominar os debates de Brasília pelos próximos dias, aliados do Planalto têm dúvidas se Bolsonaro vai manter o silêncio sobre as revelações de Janot.
Redes sociais
Em grupos de WhatsApp, delegados da PF debateram um provável abuso do Supremo em ordenar buscas e apreensões em imóveis ligados ao ex-procurador Rodrigo Janot. ;Essa ação do STF dispara a perplexidade. Muito grave. Se o máximo tribunal de um país faz isso, o que mais então poderemos esperar de um juiz de primeiro grau? E dos cidadãos comuns?;, disse um dos delegados. ;Tenho zero simpatia por Janot, mas não dá.;
Associação
No final do dia, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) divulgou uma nota à imprensa questionando o mandado de busca e apreensão ;flagrantemente ilegal; emitido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de repudiar o ato cogitado por Janot, a entidade disse lastimar que o ;episódio negativo possa, por oportunismo, servir de pretexto para enfraquecer a instituição;. A associação se referiu também à declaração de Gilmar Mendes, que defendeu a mudança na escolha do PGR, abrindo a possibilidade de escolha entre ;juristas;.
CURTIDAS
Assessoria // Janot estava sem assessoria de imprensa desde da metade do ano. A avaliação é de que ele ; que já havia revelado a história de ter pensado no crime sem citar o nome de quem seria a vítima no livro Nada menos que tudo ; não mediu as consequências da entrevista à imprensa. O receio agora de pessoas próximas a Janot, que já está aposentado, é de que ele possa receber punições graves do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Chaleira // A revelação de que Rodrigo Janot pensou matar Gilmar Mendes repercutiu no Ministério Público, nas redes internas e externas. O procurador do MPF em Santa Catarina, Walmor Moreira, foi um dos mais ativos no Twitter ao longo do dia de ontem. Conservador e religioso ; o homem é pastor ;, parte das mensagens de Moreira critica o ex-chefe da PGR, o Congresso e o Supremo. E alivia, a partir de exaltações, a equipe e o próprio Bolsonaro, chegando ao presidente dos EUA, Donald Trump. Sem esquecer de citar Deus, por óbvio.
Perplexidade // É impossível encontrar em Brasília alguém que não tenha se surpreendido com a história contada por Janot. O Instituto de Garantias Penais (IGP) se disse ;perplexo; diante das declarações de Janot. ;Uma pessoa que se confessou tentada pela ideia de sacar uma arma de fogo para matar um ministro meramente porque não suportou uma divergência intraprocessual, não possui a estabilidade mental necessária para exercer a função acusatória.;
Cama de gato // Aliados do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (foto), acreditam que o secretário executivo João Gabbardo tem amarrado ações na pasta para desgastar o chefe, a partir de cortes orçamentários, por exemplo. Segundo o pessoal ligado a Mandetta, a torcida de Reis é que o ministério fique com Osmar Terra, da Cidadania, do mesmo grupo político, profissão e região. No início do mês, Terra chegou a ser cotado para a Saúde no momento de maior fragilidade de Mandetta. A intriga na Esplanada atinge índices inimagináveis.