Na manhã desta quinta-feira (26), Heleno acompanhou a imprensa em uma visita às instalações da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial (SCP). Após uma palestra, três demonstrações de força militar foram feitas: Uma em um estande de tiro, outra de defesa pessoal e fuga e uma última, de extrema complexidade, que demonstrou a reação do comboio presidencial com manobras evasivas.O presidente da República também assistiu a mesma apresentação, em fevereiro deste ano.
Heleno aponta que a demonstração pública não põe em risco a segurança presidencial. ;É de domínio público e vários manuais de segurança apresentam o que fizemos hoje. Não tem nenhuma segunda intenção nisso aqui. Nós apenas estamos aproveitando a oportunidade para mostrar como funciona a segurança do presidente, vice e familiares. Para que tenham uma noção do grau de preparo que isso exige, da seleção que tem que ser feita daqueles que participam dessa atividade, não é qualquer um que pode participar. Isso é testado do ponto de vista técnico, psicológico e de atenção no que se está fazendo;, disse.
O chefe do GSI relembra um dos momentos de tensão pelo qual o presidente passou.
;Outro dia, estávamos em Guaratinguetá, seguindo em direção à Academia Militar e o presidente preferiu usar o comboio motorizado. Um dos batedores foi acidentado e ficamos algum tempo na estrada com o presidente andando pra lá e pra cá. Essa é uma situação onde a ameaça que não existia praticamente passou a existir devido a demora dele. À noite então, tudo isso preocupa;, relatou, citando ainda o dia 7 de setembro, em que além de quebrar o protocolo e caminhar pelo asfalto cumprimentando a população nas arquibancadas, Bolsonaro seguiu de carro, passeando pela Esplanada com o corpo para fora do carro.
"Pode ter sido uma preocupação boba, mas quando vi que ele ia passar embaixo dos dois viadutos da Rodoviária, eu fiquei preocupado. Tinha uma multidão de gente. Ali, não precisa ter pontaria, não precisa nada;, contou o general.
Ele explicou ainda sobre uma das demonstrações realizadas, na qual, após manobras, a equipe do comboio troca tiros e joga bombas de gás colorido que turvam a visão da possível ;ameaça;, enquanto o presidente recebe cobertura e foge escoltado, utilizando uma pasta escudo blindada que oferece uma segurança extra.
;A emboscada com saturação de fogo é para impedir que a ameaça coloque a cabeça de fora, a tendência normal dele é se esconder. Vai perceber que o presidente não é um alvo fácil".
Heleno relata que a seleção para o time de segurança presidencial é rigorosa e as indicações são feitas pelas próprias Forças. O vínculo muito próximo entre a equipe e o presidente também não é permitido, pois, assegura, põe em risco o nível de segurança, que tende a ser colocado em segundo plano.
Apesar da altamente capacitados, o general pondera não existir ;segurança 100% garantida;. "As coisas não se repetem aqui, as coisas são tratadas de acordo com cada oportunidade, cada visita. Cada evento tem um tratamento diferente. É uma atividade altamente dinâmica, nós não podemos assinar embaixo e dizer que a segurança é 100%. A responsabilidade é minha e eu não assino um papel desse. É lógico que existe um pequeníssimo grau de risco que pode envolver uma situação desagradável".
Para Heleno, a facada sofrida pelo presidente no ano passado em período eleitoral não fez com que a segurança tivesse reforço, mas serviu de contraponto ao panorama político existente.
"Se o atentado tivesse sido bem sucedido, teríamos presenciado uma mudança radical na política brasileira. Ele continua a ser um alvo compensador. A nossa segurança não mudou por causa disso, mas há consciência plena do que ele significa como alvo", declarou.
O general do GSI acrescenta duas qualidades fundamentais para a realização efetiva da segurança presidencial: flexibilidade e qualidade de pessoal. O gabinete completou 80 anos de existência.
;Realizar a segurança exige flexibilidade. Não tem presidente igual e viagem igual. Cada viagem tem suas particularidades, cada presidente é completamente diferente do outro. Tem que ter conduta diplomática. Prevê uma coisa e às vezes acontece outra completamente diferente. Com o presidente Bolsonaro isso é frequente. Ele é irrequieto, impetuoso, desobediente. E a segurança não pode falar: ;Presidente, você não pode fazer isso!” Não está dentro da nossa maneira de ser;, completa.
Heleno, que já serviu a três presidentes, lembra que Fernando Collor era ;extremamente disciplinado; e conferia o ;livrinho de bordo; feito pela segurança. Já Itamar Franco, era ;danado;. ;Ele ia para Juiz de Fora e não levava ninguém da segurança. Não queria ver ninguém. Quem dirigia o carro era o ajudante de obras;, expôs.
Naquela época, constata, a grande preocupação da segurança aproximada, era o ;beijoqueiro;. ;Ele se aproximava do presidente, agarrava. Agarrava as autoridades, tinha um serviço de busca ao beijoqueiro. Mas aqui nunca tivemos. Era bem mais fácil, bem melhor um beijoqueiro, do que um esfaqueador;.
Com Bolsonaro, exemplifica, um percurso reconhecido pela equipe, que duraria cerca de 15 minutos para ser completado, chega a levar duas horas. ;O presidente anda no carro 20 metros e fala ;para, para, para;. Ou ele sai metade do carro ou desce. Vem criança que quer tirar foto, gente querendo tirar selfie. Ele faz isso porque gosta de ir para a galera. É um susto pra gente a cada momento. É lógico que nesse momento aumenta o risco bastante temos que assimilar isso como sendo uma maneira de ser do presidente e estamos aqui para isso, para dar a ele condições de viver da forma menos desconfortável;, emenda.
Os turistas e simpatizantes que aguardam o presidente na saída do Alvorada, conta, passam por detector de metais, além de observação permanente de seguranças locais e infiltrados em meio ao povo.
Vídeos de demonstrações de força militar Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial (SCP):
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