Integrante da comitiva oficial do presidente Jair Bolsonaro durante sua viagem a Nova York para participar da Assembleia-Geral das Nações Unidas, a indígena Ysani Kalapalo, moradora do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, foi alvo de uma nota de repúdio assinada por representantes de 16 povos do Xingu.
"O governo brasileiro mais uma vez demonstra com essa atitude o desrespeito com os povos e lideranças indígenas renomados do Xingu e outras lideranças a nível nacional, desrespeitando a autonomia própria das organizações dos povos indígenas de decisão e indicação de seus representantes em eventos nacionais e internacionais", diz a nota.
O documento foi assinado por líderes dos povos Aweti, Matipu, Mehinako, Kamaiurá, Kuikuro, Kisedje, Ikpeng, Yudjá, Kawaiweté, Kalapalo, Narovuto, Waurá, Yawalapiti, Nafukuá e Tapayuma, todos localizados no Parque do Xingu, considerado uma das maiores reservas indígenas do mundo.
De acordo com a nota, a escolha de Ysani é ofensiva por "dar destaque a uma indígena que vem atuando em redes sociais com o objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil". Ainda no documento, os caciques afirmam que Bolsonaro usa a convidada "com o objetivo de convencer a comunidade internacional de sua política colonialista e genocida".
A nota termina reafirmando a autonomia dos povos e o seu direito à indicação dos próprios representantes para eventos oficiais. "Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidos e respaldados por nós".
Embate antigo
No final de agosto, Bolsonaro já havia sido alvo de outra nota de repúdio, dessa vez assinada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que condenaram suas políticas ambientais: "Enquanto a Amazônia arde em chamas, o presidente anti-indígena Jair Bolsonaro segue destilando sua ignorância e racismo contra os povos indígenas do Brasil", começa a nota. De acordo com o comunicado, Bolsonaro também estaria usando sua plataforma política para pregar uma "política genocida, etnocida, antiecológica e anti-indígena".