A Amazônia está se tornando uma savana e não combater completamente o desmatamento ;será um suicídio;, alertou o cientista brasileiro Carlos Nobre no domingo na Organização das Nações Unidas (ONU), um dos especialistas em florestas tropicais mais respeitados do mundo.;Há indícios de que o processo de savanização começou; em mais da metade da floresta, disse Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Federal de São Paulo, em entrevista à AFP na véspera da cúpula climática na ONU. ;Dá para reverter? Acho que dá. Mas se o desmatamento continuar, se não tiver controle, temos um enorme risco de perder boa parte da Amazônia. Seria suicídio;, afirmou. Nobre, 68 anos, disse que a capacidade da Amazônia de absorver carbono ainda é positiva, ;mas está em declínio;.
Ele também disse que a estação seca está ficando mais longa em 60% da Amazônia e que há uma tendência maior na mortalidade de árvores que precisam de mais umidade.
Segundo dados oficiais, o desmatamento da Amazônia brasileira praticamente dobrou entre janeiro e agosto, passando de 3.336,7 km2 no período de 2018 para 6.404,4 km2 neste ano, o equivalente a 640.000 campos de futebol. Se a savana chegar a ocupar de 50% a 60% do Brasil, o processo será ;irreversível;, alertou Nobre no evento ;Amazônia Possível;, celebrado na ONU, a fim de promover um novo modelo de desenvolvimento empresarial que respeite a biodiversidade. Recuperar a floresta levaria séculos ou um milênio.
;Ecosuicida;
Durante o diálogo ;Amazônia Possível;, dois jovens protestaram quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, discursou. Os jovens, que usavam lenços no rosto, nos quais se liam as palavras ;Eco; e ;Suicídio;, e acenaram uma placa com a inscrição ;Salles;, protestaram silenciosamente contra a política ambiental do governo brasileiro, cético em relação às mudanças climáticas e que reverteu várias medidas de proteção. ambiental.
O Brasil tenta convencer o mundo de que a situação na Amazônia está sob controle, mas o desmatamento disparou, assim como os incêndios florestais, gerando uma crise internacional em agosto. O secretário-geral da ONU, António Guterres, e líderes de países como França, Alemanha, Colômbia, Chile, realizarão uma reunião para discutir a situação na Amazônia nesta segunda-feira, antes do início da cúpula climática da ONU.
O presidente Jair Bolsonaro não comparecerá. O chanceler Ernesto Araujo negou recentemente em Washington a existência de uma emergência climática e disse que alguns países procuram restringir a soberania do Brasil promovendo o ;climatismo;. Para Nobre, ;a pressão internacional é essencial; para conter o desmatamento. ;Rigor com produtos que vêm da Amazônia, não comprar nada que não tenha certificado, tudo isso é importante;, frisou.
"A pressão internacional é fundamental para conter o desmatamento da Amazônia;
Carlos Nobre, cientista brasileiro