O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, afirmou, ontem, que Jair Bolsonaro deve deixar para depois da viagem a Nova York ; onde é aguardado para fazer a abertura da Assembleia Geral da ONU ; a decisão sobre a permanência de Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) como líder do governo no Senado. O emedebista colocou o cargo à disposição na quinta-feira, após a Polícia Federal realizar uma operação de busca e apreensão no gabinete dele e do filho, o deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM-PE). ;Essa é uma questão que ele (presidente) vai abordar, se assim considerar, no retorno da viagem;, comentou Rêgo Barros.
A operação da PF no Congresso, chamada Desintegração, é baseada em delações premiadas obtida em outra operação, a Turbulência, deflagrada em junho de 2016. Um dos delatores é o empresário João Lyra, apontado como operador financeiro de supostos esquemas criminosos em Pernambuco.
Fernando Bezerra e o filho são acusados de irregularidades em obras no Nordeste, como a transposição do Rio São Francisco, no período em que o senador era ministro da Integração Nacional do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Segundo as investigações, os dois políticos pernambucanos receberam de empreiteiras R$ 5,5 milhões em propina entre 2012 e 2014.
A operação da PF, autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), causou grande repercussão no meio político, e foi repudiada, em nota, pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O episódio ocorreu no momento em que o governo tem pautas importantes para serem discutidas no Congresso, como a sabatina de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro para o cargo de procurador-geral da República; o exame dos 19 vetos presidenciais ao projeto de abuso de autoridade e a tramitação da possível indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para ser o embaixador do Brasil nos EUA.
O deputado Ricardo Barros (PP-PR), relator do projeto de abuso de autoridade, disse ao Correio que a operação da PF no Congresso foi ;extremamente abusiva;, pois os fatos investigados são antigos, de 2012. ;Acho que, nas buscas realizadas no Congresso, dificilmente a Polícia Federal conseguiu apreender algo relevante para essa investigação;, frisou o parlamentar. Ele alertou para os riscos que ações desse tipo representam para a harmonia entre os poderes. ;Na minha opinião, o ativismo político, ambiental e ideológico é muito perigoso para a relação entre as instituições e não deve estar presente na cúpula dos poderes da República.;
Para o cientista político Paulo Calmon, da UnB, o momento exige o resgate das bases da boa governança das políticas públicas na área de Justiça, segurança pública e combate à corrupção. ;Vivemos um clima muito ruim na relação entre os poderes e entre os vários órgãos vinculados às políticas públicas na área de Justiça e segurança pública;, frisou. ;A governança desse subsistema de políticas públicas era exercida de forma compartilhada e com a cooperação entre os poderes, mas as bases para essa governança foram se erodindo ao longo do tempo, e o sistema mergulhou em disputas políticas, ideológicas e até mesmo pessoais.;