O deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP), vice-líder do governo no Congresso, aproveitou almoço da bancada evangélica com a presença de integrantes do Executivo, na quarta-feira, para ;lavar roupa suja; com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos. O parlamentar se queixou de falhas na articulação política, que, para ele, não daria a devida atenção à bancada evangélica. As críticas, feitas publicamente diante do presidente da frente parlamentar religiosa, Silas Câmara (Republicanos-AM), constrangeram ministros e não foram digeridas por Ramos.
A pessoas próximas, Ramos lamentou a postura de Feliciano. O general sustenta, com orgulho que, desde que assumiu o cargo, em 4 de julho, realizou 217 atendimentos a parlamentares, incluindo acolhimentos feitos a deputados e senadores que se reuniram com ele mais de uma vez. Desse total, 86 foram dedicados a congressistas da bancada evangélica, ou seja, cerca de 40% dos atendimentos. ;O ministro em momento algum negou atenção a evangélicos, ruralistas, ou a bancadas e líderes partidários;, disse uma fonte.
O ministro atribui as críticas de Feliciano a um ressentimento pessoal. O parlamentar teria pedido, no fim de julho, que o governo nomeasse o advogado Pablo Tatim, ex-subchefe de Ação Governamental da Casa Civil. Ele é membro da igreja Assembleia de Deus Ministério da Restauração. O vice-líder do governo é presidente da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento.
O ministro, no entanto, segue um procedimento padrão. Ele submete o nome sugerido ao entorno governista e, se tiver sinal verde, chancela a nomeação. Havendo obstrução, veta ; e foi o que ocorreu. O ministro consultou três ministros, entre eles, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A rejeição, segundo fontes, foi unânime, devido a suspeitas de nomeações irregulares e de recebimentos indevidos de diárias e passagens aéreas. Tatim também foi citado em investigação sobre contratação superfaturada de uma empresa de tecnologia pelo extinto Ministério do Trabalho.
Amizade
A resposta a Feliciano veio no início de agosto. ;O deputado disse ao ministro que não aceitaria ;não; como resposta e, aproveitando da amizade com o presidente Bolsonaro, levaria a reclamação diretamente a ele;, afirmou um interlocutor governista. A crítica não foi acolhida. Bolsonaro deu a Ramos a palavra final e bateu o martelo contra a nomeação de Tatim. ;Apesar das rusgas, o governo ainda analisa a nomeação de um ex-deputado da bancada evagélica indicadopelo vice-líder;, disse uma fonte.
Ao Correio, Feliciano negou que as divergências com Ramos sejam motivadas por cargos. A razão seria a falta de construção de uma base de apoio para o governo. ;Se você discorda dele, ele fica agressivo. Veja o nível de imaturidade política: me bloqueou no WhatsApp porque o critiquei. Articulação política se faz com diálogo;, criticou. Quanto a Tatim, ele frisa que conta com seu apoio, mas nega ter pedido a nomeação. A Secretaria de Governo não se posicionou.