;Os documentos mostram que eles mudaram o plano de cargos e de salários. Nisso, o que acontecia? Eles (funcionários do BNDES) se calavam para ter uma remuneração maior. Quanto mais se emprestava, mais se recebia. Isso é uma caixa-preta. É uma corrupção que você tinha ali, dos servidores, para não falarem nada. Existiam até e-mails que diziam ;Gente, está chegando dia 30, temos que fechar as cotas;;, destacou a deputada. Ela contou que os parlamentares tiveram dificuldades para convocar as pessoas devido ao excesso de habeas corpus que impediu a audiência de 16 dos 21 nomes chamados para as oitivas.
Ontem, foi o último dia de audiência na CPI do BNDES. Os parlamentares têm até 22 de outubro para entregar o relatório final. No entanto, a vice-presidente da comissão informou que pretende terminar o documento até o próximo dia 10.
De acordo com a deputada, esse expediente aconteceu durante a gestão de Luciano Coutinho no banco estatal, quando houve a mudança do plano de cargos e salários, que atualmente está sob sigilo.
Procurado, o BNDES informou que não recebeu os questionamentos do Correio em tempo hábil. ;Diante do fechamento iminente do jornal, restou prejudicada qualquer possibilidade de o BNDEs se manifestar propriamente em relação aos apontamentos da deputada;, disse a assessoria de imprensa da instituição, em nota.
Segundo a deputada, o plano contemplou todos servidores da instituição. ;É lógico que havia diretores que faziam com que seus técnicos aprovassem aquilo de uma maneira adequada, porque refletia diretamente no salário deles. Existem, inclusive, diretores sob suspeita, porque a gente percebe assinatura digital deles em vários outros contratos, que não tinham respaldo do risco;, afirmou.
Gaveta
Paula Belmonte disse, ainda, que a CPI descobriu supostos ;contratos de gaveta, com valores superfaturados; entre o BNDES e empresas, como a JBS e o Grupo Bertin. Segundo ela, diversos sócios minoritários dessas companhias tiveram prejuízos com a ;manipulação de contratos;. ;Descobrimos isso porque hoje existe uma briga com o grupo JBS e Bertin. Vários sócios minoritários estão tendo um prejuízo enorme com essa manipulação. Nós costumamos dizer, e isso é até uma palavra do Ministério Público, que esse quase foi um crime perfeito, mas eles se esqueceram de um detalhe: fizeram o superfaturamento de uma empresa que praticamente não valia nada, e esqueceram que, quando fizeram esse superfaturamento, isso incidiria em impostos;, disse a deputada. ;Conseguimos verificar que era uma orquestra;, declarou.
Na entrevista, a parlamentar também criticou a mudança de avaliação de risco, promovida pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) para países alinhados politicamente ao governo da época. Segundo ela, o órgão alterou ;sem nenhum tipo de estudo;, determinações sobre os riscos de empréstimos a países que, em condições normais, não teriam condições de tomar empréstimo do BNDES porque tinham risco elevado, entre eles, Cuba. ;Quanto menor o risco, mais dinheiro eu empresto, então, quando se diminui o risco, você está emprestando valores maiores e com benefícios como juros subsidiados, em condições muito melhores;, explicou a deputada.
* Estagiária sob supervisão de Rosana Hessel