Em meio ao acirramento do clima entre o presidente Jair Bolsonaro e a Polícia Federal, o chefe do Executivo já tem o nome de um eventual substituto para o atual diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. O chefe do Executivo cogita nomear para o cargo o delegado Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Nas fileiras da PF desde 2015, Ramagem ganhou a confiança de Bolsonaro nos últimos meses. Ele integrou o serviço de inteligência da Operação Lava-Jato. Outro cotado é o secretário de Segurança do DF, Anderson Gustavo.
Depois de duas semanas esticando a corda contra a corporação, o presidente, ontem, voltou a estressar a relação com a instituição. A dificuldade para o Planalto e para o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que comanda a PF, é que Valeixo insiste em não deixar o cargo.
Dentro da corporação, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a avaliação é de que ele deve permanecer no posto e aguardar os desdobramentos do caso. Uma saída agora soaria como perda de força da instituição, que briga para manter sua independência funcional ante o Poder Executivo. Moro sofre pressão dos dois lados. O presidente da República jogou nas mãos dele a demissão do atual chefe da PF. Ontem, em coletiva sobre a Operação Luz na Infância, de combate à pedofilia, o ex-juiz saiu sem falar com os jornalistas, ao ser questionado sobre a sua decisão em relação à troca de comando.
Uma declaração de Bolsonaro à Folha de S. Paulo acirrou o clima com os integrantes da PF. Ele destacou que Moro já tem o aval para mexer no comando da corporação. ;Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar (o diretor-geral, Maurício Valeixo) quando quiser;, disse. ;Mais difícil é trocar de esposa. Eu tive uma conversa a dois com o Moro...(o diretor-geral) tem que ser Moro Futebol Clube, se não, troca;, frisou.
No cabo de guerra pelo comando da PF, o atual diretor-geral tem ganhado apoio interno. Ele recebe pedidos para que se mantenha no cargo, independentemente das declarações do chefe do Planalto. ;Valeixo não vai aliviar e tende a deixar o desgaste do presidente com a corporação. O desgaste maior é do Bolsonaro, que é político. O DG é um técnico;, disse um delegado lotado no Maranhão e ouvido pelo Correio.
Alexandre Ramagem integrou a equipe de segurança de Bolsonaro quando ele sofreu um ataque à faca em Minas Gerais, ainda durante a campanha eleitoral. A relação entre o presidente e Moro, que parecia ter sido apaziguada nos últimos dias, voltou a ficar conturbada por causa dos ataques do chefe do Executivo à PF.
A escalada de tensões teve origem quando Bolsonaro anunciou que o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, seria exonerado por questões de gestão e produtividade. A declaração gerou reação na corporação, e delegados ameaçaram uma entrega coletiva de cargos. O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, é alvo de uma investigação no Rio, por supostamente ter integrado um esquema de candidaturas laranjas no PSL. A investigação está parada por conta de uma decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a suspensão de diligências utilizando dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e da Receita Federal sem autorização da Justiça.
"Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar (o diretor-geral, Maurício Valeixo) quando quiser;
Jair Bolsonaro, presidente da República