O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou nesta terça-feira, 27, o relatório final da Polícia Federal (PF) que atribui a ele os crimes de corrupção passiva, falsidade ideológica eleitoral (caixa dois) e lavagem de dinheiro em esquemas da Odebrecht. O documento afetou o mercado financeiro na segunda-feira, 26, quando foi divulgado.
Maia hoje é considerado o principal fiador das reformas no Congresso e um contraponto às posições do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Analistas do mercado justificaram a preocupação afirmando que o presidente da Câmara é um fator de estabilidade frente à insegurança política que ronda o Planalto.
Na segunda, uma pesquisa do instituto MDA para a Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostrou que a desaprovação do desempenho pessoal de Bolsonaro saltou para 53,7% em agosto, ante 28,2% em fevereiro. E que o índice dos que avaliam seu governo como péssimo saltou 20 pontos porcentuais no mesmo período, chegando aos 39,5%.
"É democrático (o relatório da PF). Não sou daqueles que critico análise. Faço a crítica no mérito. E no mérito você tratar de influência política como ato de corrupção é um grande exagero por parte de quem seja. Acredito nas instituições. Para isso, nós temos um sistema em que eles fazem a investigação e a PGR faz a avaliação", afirmou Maia.
Líderes ouvidos pela reportagem afirmaram que a reação do mercado é "natural" e "previsível" dada a instabilidade política do País nos últimos anos. De acordo com duas lideranças do chamado Centrão - bloco formado por DEM, PP, PL, Republicanos e Solidariedade -, não há, neste momento, chance de o Parlamento perder a confiança em Maia à frente das reformas.
Os parlamentares afirmam ainda que o cenário atual diverge dos últimos anos por dois aspectos: o primeiro é que as acusações contra Maia não trazem elemento novo e não há, hoje, uma força política organizada no Congresso para fazer uma oposição política capaz de abalar o apoio do presidente da Câmara.
Abuso
O relatório da PF aponta que Maia teria recebido R$ 350 mil nas eleições de 2010 e 2014. O documento afirma que ele e seu pai, o vereador carioca Cesar Maia (DEM), praticaram crime eleitoral "na modalidade 'caixa 3', ao apresentar apenas as informações de cunho estritamente formal das doações repassadas por empresas interpostas quando o verdadeiro doador era o Grupo Odebrecht".
O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin deu 15 dias para a procuradora-geral, Raquel Dodge, decidir se oferece denúncia - ela também pode devolver com solicitação de novas investigações.
Aliados de Maia viram a medida como uma reação de grupos da Polícia Federal ao projeto de abuso de autoridade, aprovado no dia 16 de agosto. O presidente da Câmara é o principal defensor da proposta e já disse que pode derrubar eventuais vetos que o governo construa. Entidades ligadas à PF e outras instituições do Judiciário e segurança pública querem o veto da maior parte da proposta.
"Não acho que tem relação com a Previdência, que tem relação com o abuso de autoridade. Eles (PF) estão cumprindo com o papel deles, agora a PGR vai cumprir a dela e depois o Supremo (Tribunal Federal). Da mesma forma como quando a gente vota o abuso, o extra teto, a reforma administrativa, eu quero o mesmo respeito que eu tenho pelos dois delegados que concluíram o inquérito", afirmou o presidente da Câmara.
Sobre as acusações, Maia minimizou. "O inquérito de mais de dois anos tinha que terminar. Geralmente, o investigador não gosta de terminar as suas investigações dizendo que não encontrou nenhum fato além daquilo que o delator falou. E cria um caminho porque não encontrou nada de concreto em relação a caixa dois. Tem doação oficial, e a relação da doação oficial é porque eu tinha influência. Esse é o ato de desvio? É legítimo, mas infelizmente muitas vezes o final de uma investigação como é contra a política nunca pode ser sem ampliações dos indícios iniciais", afirmou Maia.