O Palácio do Planalto confirmou ontem a informação de que o governo brasileiro rejeitaria os 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões) oferecidos pelo grupo dos países mais ricos do mundo, o G7, para combater os incêndios na região amazônica. A decisão vai aumentar o tom do conflito entre os presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron (França).
Mais cedo, Bolsonaro baixou o tom no discurso radical acerca da ajuda mundial à Amazônia, mas se manteve em pé de guerra com Macron. Ontem, mesmo sem responder questionamentos da imprensa, ele desdenhou a ajuda oferecida pelo mandatário francês, questionando os objetivos em relação ao auxílio ambiental. À noite, a informação sobre a rejeição da oferta do G7 foi dada pelo Blog do Camarotti e confirmada pelo Correio.
Ao lado do presidente do Chile, Sebastián Piñera, Macron anunciou nesta segunda o envio de 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões) para auxiliar o combate às queimadas, por meio do envio de aviões Canadair. Pouco depois do anúncio, Bolsonaro falava com a imprensa, na saída do Palácio da Alvorada. ;Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda alguém, a não ser a pessoa pobre, né, sem retorno (financeiro)? O que está de olho na Amazônia, o que eles querem lá há tanto tempo?;, declarou.
Em outra ocasião, Bolsonaro afirmou ter trabalhado ;24h; durante o fim de semana, conversando com líderes e chefes de Estado de ;vários; países. ;Pessoas, líderes excepcionais, que querem, realmente, colaborar com o Brasil;, disse. Sem citar Macron, alfinetou o presidente francês, quando informou não ter dialogado com outros que desejam a ;tutela; do Brasil. ;Não conversei com aqueles outros, que querem continuar nos tutelando;, afirmou.
Apesar do embate com Macron, Bolsonaro amenizou no discurso radical. No domingo, no Twitter, agradeceu a ;chefes de Estado; que o ouviram e ajudaram o governo a ;superar uma crise que só interessava aos que querem enfraquecer o Brasil;. Os presidente de Israel, Benjamin Netahyahu, dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Chile, Piñera, são alguns chefes de Estado com quem o capitão reformado conversou entre sexta-feira e ontem.
Depois do contato com a imprensa, Bolsonaro comunicou no Twitter ter conversado com o presidente da Colômbia, Iván Duque. ;Falamos da necessidade de termos um plano conjunto, entre a maioria dos países que integram a Amazônia, na garantia de nossa soberania e riquezas naturais;, afirmou. Na mesma rede social, contudo, voltou a criticar Macron. ;Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma ;aliança; dos países do G-7 para ;salvar; a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém;, declarou.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a ajuda prometida pelo G7 aos países afetados pelos incêndios na região amazônica será bem-vinda. Salles ressaltou que os recursos serão utilizados segundo critérios estipulados pelo Brasil. ;Quem vai decidir como usar recursos para o Brasil é o povo brasileiro e o governo brasileiro. De qualquer forma, a ajuda é sempre bem-vinda;, disse, antes da decisão do governo em rejeitar o dinheiro do G7.
;;Solidariedade;;
Ainda no Twitter, Bolsonaro ponderou que ;outros chefes de Estado se solidarizaram com o Brasil;. ;Afinal, respeito à soberania de qualquer país é o mínimo que se pode esperar num mundo civilizado;, disse. Não é a primeira vez que Bolsonaro questiona o interesse de ajuda ambiental à região Amazônica. Há cerca de duas semanas, quando Alemanha e Noruega anunciaram bloqueios de verbas ao Fundo Amazônia, ele engatou uma narrativa que, frisou, defende desde 1991, sobre o interesse de grandes nações europeias na região Norte do país.
Desde então, ele não se mostra preocupado com os impactos que suas declarações possam trazer, sugerindo que negativa era a imagem ;péssima; de ;subserviência; do Brasil às potências mundiais. O professor Luiz Fernando Ferreira, especialista em Meio Ambiente pela Universidade de São Paulo (USP), disse que a recusa da ajuda pode tensionar as relações com a União Europeia, estimulando possíveis boicotes a produtos brasileiros. ;Isso só coloca mais lenha na fogueira. O Brasil tem um compromisso assumido no acordo de Paris e precisa cumprir.;
Enquanto Bolsonaro falava na saída do Palácio da Alvorada, Macron criticava os comentários "extraordinariamente desrespeitosos" de Bolsonaro sobre a esposa, Brigitte, dizendo-se triste por ele e pelos brasileiros. "O que eu posso dizer a vocês? É triste, é triste, mas é em primeiro lugar triste para ele e para os brasileiros", afirmou, acrescentando que espera que os brasileiros "tenham um presidente que se comporte à altura" do cargo.
O Ministério da Economia liberou ontem R$ 38,5 milhões ao Ministério da Defesa para combate a incêndios na Amazônia Legal. O valor havia sido contingenciado do montante voltado para Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). As ações de GLO tinham orçamento aprovado de R$ R$ 47,5 milhões. Desse total, cerca de R$ 7,1 milhões estavam sendo utilizados.