Ameaçada de expulsão pelo PDT por ter votado a favor da reforma da Previdência, a deputada Tabata Amaral (SP) atribui muito das críticas que recebeu ao machismo. "Se eu não fosse uma mulher de 25 anos, ninguém estaria afirmando que A, B, C ou D disseram como eu voto", afirmou ela ao Estado. "Tem pessoas que não acreditam que eu tenha inteligência e capacidade de decidir o meu próprio voto." Sobre o risco de ser expulsa, respondeu que, se isso acontecer, vai procurar uma legenda que tenha como prioridade a pauta da Educação. "Recebi convites informais de vários partidos." Segunda parlamentar mais jovem da atual Legislatura, Tabata costuma dizer que se espelha na deputada americana Alexandria Ocasio-Cortez, do partido Democrata. Descendente de porto-riquenhos e eleita pela força das redes sociais, Alexandria é a mulher mais jovem a ocupar uma cadeira no Congresso nos EUA. Embora atuante, Tabata diz que lida com as redes de forma ponderada. "As redes não são um fórum democrático para ouvir as pessoas e tomar decisão. Para mim, as redes servem mais para comunicar o seu mandato, ser transparente." A seguir, os principais trechos da entrevista:
O voto a favor do projeto de reforma da Previdência mudou sua forma de atuação na Câmara?
Minha postura não mudou. Eu falo da reforma da Previdência há dois anos. Uma das coisas que me levaram ao PDT e a fazer campanha para o Ciro (Gomes, candidato à Presidência derrotado nas últimas eleições) foi o fato de eu ver nele uma liderança que era de centro-esquerda, assim como eu, mas que entendia que falta dinheiro para fazer política pública e que o Brasil precisava ser fiscalmente responsável. Vê-lo defender a reforma da Previdência na campanha, quando ninguém falava disso, me deu muita certeza de pedir voto para ele.
Então, por que o ruído com a sua posição na Previdência?
Fiquei muito frustrada com a falta de compromisso em relação ao que o PDT havia defendido na campanha (eleitoral). Eu segui minhas convicções. Fui coerente. Talvez isso, na política tradicional, seja algo diferente.
O deputado Felipe Rigoni (PSB-ES) externou antes da votação da Previdência, publicamente, sua posição repetidas vezes. O PDT afirma que a senhora não.
Discordo. Quem me perguntou, quem se preocupou, seja entrevistador, seja população, eu fui muito coerente. Eu acho que precisavam de um bode expiatório para este processo.
Por quê?
Foram 369 votos (a favor da Previdência). Imagino que o meu não foi surpresa nem para o Ciro, porque volta e meia a gente falava sobre a Previdência. Agora, a razão de as pessoas trazerem esse tanto de acusações, não sei. Alguns se frustraram. Outros, por um pouco até de machismo. Vou ter de carregar por alguns anos o fato de ser a segunda mulher mais jovem daqui. Sou branca, tive um monte de oportunidade, estou aprendendo a minha quarta língua, mas também não sou uma pessoa típica de Harvard (universidade americana, onde estudou). O lugar do qual eu venho é tão diferente que as pessoas não conseguem me encaixar nos seus estereótipos.
Parte da bancada do PDT e o próprio Ciro veem sua atuação sendo pautada por agentes como a Fundação Lemann...
Eu sei que tem várias teorias da conspiração. Eu acabo me aborrecendo às vezes. É o meu nome e eu batalhei muito para estar aqui. Trabalhei desde os sete anos de idade, e vem um povo dizendo que fulano é responsável por tudo que você faz e como você vota. Tem muito machismo nisso também porque, se eu não fosse uma mulher de 25 anos, ninguém estaria dizendo que A, B, C ou D disseram como eu voto. Tem pessoas que não acreditam que eu tenha inteligência e capacidade de decidir o meu próprio voto.
A reação das redes contra a sua posição da Previdência mudou a sua atuação na Câmara?
Não. A diferença da maneira com a qual eu lido com as redes é que, para mim, as redes não são um fórum democrático para ouvir as pessoas e tomar decisão. Para isso, eu tenho o gabinete itinerante. Não é fazer uma enquete com a quantidade de robô e a quantidade de dinheiro que tem nas redes sociais. Para mim, as redes servem mais para comunicar o seu mandato, ser transparente. Comparando a postura do (presidente Jair) Bolsonaro e a minha, em outras proporções, é que ele usa as redes para consultar e se posicionar. Eu uso as redes para me comunicar e explicar meus posicionamentos.
Existe um reposicionamento estratégico da sua imagem?
Eu tenho um time muito bom que me ajuda. A gente está sempre tentando se reinventar. E quando eu falo em me reinventar não é reposicionamento. É simplesmente tornar a comunicação mais simples. Minha eleição não foi de redes sociais. E eu já fui chamada de débil mental por falar que eu não acho que dá para ouvir a população ouvindo as redes. Não dá para fazer nada pensando em números de likes. Não é um reposicionamento. O que eu acredito, não mudou.
Ao se aproximar do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a senhora está se reposicionando politicamente mais ao centro do espectro político?
Eu tenho reuniões quase que semanais com Maia desde que fiz uma provocação a ele: a Casa precisa se posicionar na pauta social. Aí tem um vácuo. Ele falou: 'se você conseguir levantar projetos, traz para mim'. Eu, quando cheguei aqui, olhei esse Parlamento conservador e a agenda do governo, e não achei que eu ia conseguir falar com o presidente da Câmara e ter espaço para falar de uma agenda social. Então, vou aproveitar.
E qual é essa agenda?
Sou de centro-esquerda. Eu escolhi o PDT porque eu acreditava naquele momento que era o lugar que eu teria mais espaço para defender a minha agenda de Educação. Se o PDT me expulsar, e essa decisão é deles e não minha, porque eu não converso com o conselho de ética, vou para um partido que tenha essa pauta como prioritária. Agora, para qual partido que eu vou, não dá para eu conversar. Eu não fui expulsa.
Você não está fazendo este movimento de buscar um partido?
Não. Recebi convites informais de vários partidos. Formal, eu não recebi. Se eu for expulsa, eu converso com o maior prazer.