Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu" />
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendeu, ontem, a ratificação do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, mas ressalvou que, em razão das queimadas na Amazônia, e da postura do presidente Jair Bolsonaro, a conclusão do acordo pode não ocorrer de forma harmoniosa. Ele falou sobre o assunto durante entrevista coletiva antes do início da cúpula do G7, em Biarritz, na França.
“Apoiamos o acordo UE-Mercosul, que também implica a proteção do clima, mas é difícil imaginar uma ratificação harmoniosa pelos países europeus enquanto o presidente brasileiro permite a destruição dos espaços verdes do planeta”, afirmou Tusk.
Reino Unido, Alemanha e Espanha, no entanto, têm adotado um discurso mais cauteloso. “Há todo tipo de pessoa que usará qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar os acordos comerciais, e eu não quero isso”, disse, por exemplo, o premiê britânico, Boris Johnson, na reunião do G7. Em nota, o governo espanhol afirma será por meios das cláusulas ambientais do acordo comercial que se poderá avançar no tema.
Celebrado em junho, após 20 anos de negociação, o acordo ainda terá um longo caminho a percorrer para entrar em vigor. Ele precisa ser ratificado no parlamento europeu e pode precisar de aprovação dos parlamentos dos países do bloco, a depender de decisão da Comissão Europeia. Também no Mercosul, o arranjo comercial precisa da aprovação dos congressos nacionais. Na prática, significa que o acordo terá que ser aprovado pelos parlamentos dos 31 países envolvidos, uma tramitação que deve levar anos e enfrentar resistências, como já demonstraram França, Irlanda e Islândia.
O tratado de livre-comércio pretende eliminar tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos. O processo de redução de tarifas vai variar de acordo com cada produto e deve levar até 15 anos, a partir da entrada em vigor da parceria intercontinental.
Estimativas do Ministério da Economia indicam que o tratado poderá representar um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de US$ 87,5 bilhões em 15 anos. Se considerados fatores como a eliminação das barreiras não tarifárias e o incremento esperado na produtividade, o reforço no PIB poderá subir para US$ 125 bilhões.
Na reunião do G7, a “emergência climática” foi inserida no tópico “combate às desigualdades”, um dos três temas principais da cúpula, além da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a desaceleração da economia global e segurança.
Para o professor Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (Irel/UnB), o Brasil segue cada vez mais na contramão da tendência mundial em relação à preservação do meio ambiente. “Os possíveis efeitos para as exportações brasileiras têm relação com o padrão do comércio internacional nos últimos anos, que não é mais regulado apenas pelo lucro. De acordo com o especialista, tanto os países como os consumidores querem produtos com “origem limpa, que respeitem os princípios do desenvolvimento sustentável, originários de países com uma boa imagem internacional e com padrão de respeito ao meio ambiente”. (J.V)