Plácido Fernandes
postado em 13/08/2019 00:23
O Brasil parece mesmo um país pelo avesso. Uso dois exemplos para ilustrar. O primeiro: um ciberataque criminoso aos celulares de integrantes da Lava-Jato deixou animados ministros do Supremo Tribunal Federal, que veem na ilegalidade uma chance para punir o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol e, ainda, anular condenações, no âmbito da Lava-Jato, de alguns dos maiores ladrões de dinheiro público da história do país, o que pode resultar num retrocesso sem precedentes para a Justiça brasileira.Agora, o segundo caso: escuta feita pela Polícia Federal, com autorização judicial, flagrou integrantes do PCC, maior facção criminosa do país, xingando Moro, ministro da Justiça, e elogiando governo petista: ;O PT tinha diálogo com nós cabuloso, mano, porque... (...) Nem dá pra nós ficarmos conversando a caminhada aqui pelo telefone...; Agora, pasmem! Sabe qual foi a reação pública, no STF, sobre a suposta cooperação ou leniência de um governo de Lula ou de Dilma com a quadrilha de narcotraficantes? Nenhuma! Mesmo com a revelação do áudio legal obtido pela PF!
Agora, imagine se, numa gravação, mesmo que ilegal e sob suspeita de manipulação, integrantes do PCC fizessem citação semelhante a Moro e a Dallagnol. Certamente, a República viria abaixo no mesmo dia, com queda de Moro, Dallagnol, processos, CPIs, o escambau! Mas o quê? Será que desconfiam de armação nas investigações da PF, mesmo com a prisão de integrantes da facção e o desmonte de braços financeiros da quadrilha? E, ao contrário, têm tanta convicção na ação criminosa dos hackers? Sujeitos que viviam de pequenos golpes cibernéticos e, sem nada a ganhar ; a não ser o risco de parar na cadeia ; decidiram violar smartphones da força-tarefa que mais prende bandidos no país?
Causa imenso espanto que no STF, a exceção do ministro Barroso, ninguém expresse, publicamente, a desconfiança de que o ataque hacker à Lava-Jato possa ter sido financiada por alguém ou algum grupo que espera se beneficiar do crime. Evidências para suspeitar não faltam. Uma delas, a versão de que, para chegar a Glenn Greenwald, o hacker ; que invadiu o celular de quem quis na República ; precisou da ajuda da ex-deputada Manuela D;Ávila (PCdoB-RS), candidata a vice-presidente na eleição na chapa do petista Fernando Haddad. No entanto, há ministros ;garantistas; no STF que, mais do que ;convicção formada;, têm pressa. Antes de qualquer investigação sobre a motivação dos hackers, eles acreditam já ter ;provas; suficientes para pôr Moro e Dallagnol sob suspeita e soltar Lula.
Nos Estados Unidos, o megainvestidor Bernard Madoff, suspeito de um golpe de US$ 65 bilhões no mercado financeiro, fez acordo com a Justiça e, para não pegar uma pena tão braba, confessou 11 crimes. Foi punido com 170 anos de cadeia. Lá não tem movimento ;Madoff livre; nem ninguém com peninha dele. Mesmo que tenha bom comportamento e leia toda a biblioteca do Congresso americano, a maior do mundo, deve passar o resto da vida preso. No Brasil, suspeita-se de assalto generalizado aos cofres públicos. Só na Petrobras, as investigações apontam desvio superior a R$ 40 bilhões. Provas da maracutaia não faltam. No entanto, nunca antes na história deste país celebrou-se tanto o crime e perseguiu-se tanto, e de forma tão descarada, o juiz e o procurador que ousaram desmantelar a organização criminosa. Um agosto, sem dúvida, pra lá de cabuloso.