A postura do presidente Jair Bolsonaro em relação à imprensa brasileira e as ações do governo para celebrar os 13 anos de combate à violência contra a mulher estavam entre os assuntos citados pelo porta-voz da Presidência, general Rego Barros, em uma conversa com a imprensa na tarde desta quarta-feira (7/8). Em uma postagem no Twitter, às 8h, Bolsonaro divulgou o discurso em que anuncia que empresários poderão publicar os balanços a custo zero no Diário Oficial da União.
"Para ajudar a imprensa de papel e para facilitar a vida de quem produz", afirma o presidente. No discurso, ele faz diversas piadas com a imprensa e diz esperar que o jornal Valor Econômico "sobreviva à medida provisória de ontem". Na postagem, ele escreveu que estaria atendendo à imprensa e fez críticas ao aumento do desmatamento. "Temos uma boa notícia para ela: os balancetes das empresas agora poderão ser publicados em sites, dispensando os jornais. Menos papéis, menos desmatamento. Apenas lamento, menos lucro para os jornais", ironizou.
Questionado se o presidente estaria pensando em acabar também com a publicação de editais e leilões em jornais impressos, Rego Barros disse que o presidente pediu um estudo. ;Conversamos com responsáveis pela Subsecretaria de Assuntos Jurídicos. O presidente solicitou estudo com profundidade para ver a melhor forma e se essa ação será desencadeada pelo Poder Executivo. Sabemos que no Congresso e Câmara existem outras demandas legislativas, outros procedimentos que podem impactar a decisão final. Atropelar não é adequado e o presidente, com sapiência, pediu a análise desse tema", disse.
Em seguida, emendou que Bolsonaro "não tem nenhum tipo de restrição com o trabalho da imprensa". "Os considera. Não obstante, é natural que ataques pontuados e sobre pontos que não tem veracidade para ser elevada à sociedade o tocam emocionalmente", justificou. "Neste contexto, o presidente se posiciona de forma contrária a essas exposições de alguns órgãos de imprensa. Mas o presidente os respeita e vem, valendo-se e utilizando a imprensa como tradutor para apresentar os projetos do governos. Quantas vezes já não se posicionou por meio dos cafés da manhã e dos quebra-queixos? Está sempre aberto. É praticamente impossível que coloque o presidente como uma pessoa que não está aberta a imprensa", defendeu.
Lei Maria da Penha
Rego Barros também mencionou que Bolsonaro destacou "a atuação conjunta do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério das relações Exteriores". Os órgãos assinaram, nesta quarta, "o pacto pela implementação de políticas públicas de prevenção e combate à violência contra as mulheres", disse o porta-voz. "O pacto visa a articulação entre diversos atores do poder público para desenvolver, de forma coordenada, ações concretas e efetivas de prevenção e combate a violência contra as mulheres", explicou.
"Os pactuantes se comprometem a trabalhar para o aperfeiçoamento de um ato normativo de proteção às mulheres em situação de violência. Proposição de política de geração de renda, medidas preventivas, programas educativos de educação e programa de ressocialização do agressor, entre outras ações. Simbolicamente, o lançamento e a assinatura ocorre quando a lei M da P completa 13 anos", disse Rego Barros.
O assunto também foi abordado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, em seu perfil no Twitter, às 15h18. Em uma série de postagens, ele afirmou que homens se sentem intimidados pelo papel da sociedade e, por isso, muitos recorrem à violência física. "Talvez nós, homens, nos sintamos intimidados pelo crescente papel da mulher em nossa sociedade. Por conta disso, parte de nós recorre, infelizmente, à violência física ou moral para afirmar uma pretensa superioridade que não mais existe;, divulgou. A postagem para celebrar, justamente, os 13 anos da Lei Maria da Penha e as medidas do governo repercutiu mal e diversos seguidores chamaram Moro de ;machista".
Meio ambiente
Rego Barros respondeu três perguntas dos jornalistas sobre o meio ambiente. Questionado sobre a possibilidade de boicote internacional de produtos brasileiros por conta do desmatamento da Amazônia, ele disse que tanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quanto a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, têm trabalhado para isolar as exportações da "questão ambiental". "Não temos expectativa nesse sentido. O ministro do Meio Ambiente e a da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, vem trabalhando em conjunto para promover a imagem do Brasil. Particularmente nos produtos agropecuários no exterior, isolando-os dessa questão ambiental, que, como estamos de há muito avançando, tratar-se de visões estereotipadas e pontuais sobre a visão do meio ambiente", afirmou.
Sobre a polêmica envolvendo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o porta-voz afirmou que o governo contratará um novo programa, mais preciso para acompanhar o desmatamento. Mais uma vez, ele minimizou a crise provocada pelos questionamentos de Bolsonaro à validade de dados obtidos via satélite. "É preciso entender quais são as ferramenta e, com entendimento, fazer uma medição que seja transparente a cada um de nós, brasileiros ou estrangeiros. É nesse aspecto que o governo vem trabalhando. Algumas notícias vêm sendo divulgadas, nem sempre verdadeiras. É preciso que a imprensa, de modo específico, e a sociedade, de modo geral, possa entender como é feita essa medição;, argumentou.
"Eu, há pouco, conversei com o ministro do Meio Ambiente, que apresentou dados que mostram a importância que o governo Bolsonaro tem dado a esse tema. Afinal, a imprensa internacional está tocando em um ponto, muitas vezes sem conhecer do que se trata. O ministério está em contato com os governadores da região amazônica, para solicitar que cada um faça o estudo das zonas econômicas ecológica, com proposta para o desenvolvimento sustentável. Com especial atenção aos cuidados ambientais. Não adianta radicalismo ambiental que não responda a necessidades sociais;, disse. O conjunto de cuidados ambientais com preocupação social é que faz o país avançar;, completou.
A respeito da manutenção do Fundo da Amazônia, o porta-voz disse que o governo quer maior efetividade no emprego dos recursos. A intenção, destacou, é alinhar "ações patrocinadas pelo fundo com as do poder público". "A soma dos esforços para melhores resultados. O que vem sendo tratado no âmbito do Fundo da Amazônia tem que estar consorciado com os interesses do poder público", explicou.
Exterior
Ainda de acordo com Barros, o chanceler Ernesto Araújo participou, em Lima, da Conferência Internacional pela Democracia na Venezuela. O chefe do MRE discursou para representantes de 62 países e alertou que a crise naquele país é um desafio para todas as nações "por conta das conexões do regime Maduro, em ilícitos transnacionais". Aráujo também conclamou apoio ao autoproclamado presidente venezuelano e adversário de Nicolás Maduro, Juan Guaidó.
Sobre a crise provocada no governo do Paraguai a respeito da usina hidrelétrica de Itaipu, protagonizada pelo presidente paraguaio, Mario Abdo, o presidente da estatal de energia do país e o governo brasileiro, Rego Barros disse que Jair Bolsonaro está sendo abastecido com informações. "O presidente (Jair Bolsonaro) entende que é necessário que tenhamos um entendimento o mais rápido o possível, e que possa acolher a percepção de ambos os países em um ponto tão importante quanto a distribuição da energia de Itaipu. As questões relativas a comunicados e a reportagem do ABC Color (jornal que denunciou o escândalo), o presidente não comenta", afirmou.
Agenda
O porta-voz também citou o encontro de Bolsonaro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e outros parlamentares. "A reunião tratou dos temas atuais do país e, em especial, da aprovação da nova Previdência e do pacote anticrime. O presidente elogiou a liderança de Rodrigo Maia na condução da Previdência", citou Rego Barros sobre a fala do presidente. Em outros encontros, o presidente da República discutiu a redução de impostos para jogos eletrônicos e almoçou com a bancada evangélica em um evento que contou com a presença, inclusive, do ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.