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Bolsonaro demonstra crueldade e falta de empatia, diz presidente da OAB

Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, emitiu nota após o presidente Bolsonaro afirmar que poderia, um dia, contar como seu pai desapareceu durante a ditadura

Além de nota oficial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, divulgou um comunicado pessoal sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro a respeito do pai do advogado, Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar.

Nesta segunda-feira (29/7), Bolsonaro criticou a atuação da OAB durante as investigações sobre a facada que recebeu de Adélio Bispo durante a campanha presidencial de 2018. Após as críticas, disse: "Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele."

No comunicado, Santa Cruz se diz um filho com orgulho do pai, agradece as manifestações de apoio que passou a receber após a manifestação do presidente e diz que Bolsonaro "deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia".

O presidente da OAB afirma em seguida que, no caso Adélio, a OAB procurou preservar "a garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente" e acrescenta que Bolsonaro se incomoda com a defesa "da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar". "Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente", finaliza.

Íntegra da nota do presidente da OAB sobre fala de Bolsonaro

"Como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro. O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão. Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro ; e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos.

Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por ;vivência;, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais ;desaparecidos;, nossas famílias querem saber.

A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas.

O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram - e sempre estarão - sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil.
Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente."