Bolsonaro toca a bola para a base
Há poucas chances de o governo Jair Bolsonaro mudar a tônica dos movimentos no Congresso neste segundo semestre. Isso significa que estamos mais próximos de assistir trapalhadas da turma do PSL e avanços a partir da própria convicção de parlamentares, de maneira geral ; tirando a oposição ;, em aprovar a reforma da Previdência.
A dificuldade de negociação com os policiais federais dá uma mostra da dificuldade de Bolsonaro em se convencer da reforma idealizada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Se há alguma convicção, ela está no presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, e nos parlamentares com a agenda liberal.
Acreditar que privilégios oferecidos aos policiais federais não vão levar outras categorias a furarem também o balão da reforma é um devaneio que só existe na cabeça de poucos integrantes do Planalto. Na melhor das hipóteses, a pressão contra os governistas aumenta exponencialmente.
Chamado de traidor pelos policiais, Bolsonaro faz o gesto que lhe cabe: se voltar para a própria base, na tentativa de reduzir desgastes. Assim, ele continua em alta com o eleitor original, aquele que o apoiou desde o início ; ou, pelo menos, sacou primeiro que os ventos eram favoráveis ao capitão reformado na eleição do ano passado.
Avaliação
Relatório da Prospectiva sobre os seis primeiros meses do governo Bolsonaro mostra como um dos cenários possíveis a inflexão do presidente para a agenda de costumes. Com a aprovação da reforma da Previdência precificada, a busca por protagonismo envolveria, pelos menos, três grupos: ;O que defende a continuidade da agenda econômica, o que pleiteia a agenda de costumes e o que advoga em favor da agenda anticrime e anticorrupção.;
O moderador dessas três correntes não será Bolsonaro, mas Rodrigo Maia. Ele está com o apito. No mais, o diagnóstico, segundo a Prospectiva, é aquilo que se vê no dia a dia do Congresso: ;Sem uma coalizão formalmente constituída e com recuos frequentes tanto na articulação política quanto no desenho da sua estrutura ministerial, o presidente encerra o primeiro semestre sem uma agenda coesa e estruturada e sem indicar como conseguirá implementar as suas propostas.;
Moro
Há uma clara divergência entre as declarações do presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, sobre as apurações em segredo envolvendo o laranjal do PSL. Enquanto o capitão disse que recebeu ;uma cópia do que foi investigado pela Polícia Federal; do ex-juiz, Moro, em entrevista ao Correio publicada ontem e a partir da nota da pasta, garante que os dados repassados tratam apenas de diligências feitas pela PF, todas públicas e incontestáveis. Bolsonaro se apoiou nas informações recebidas por Moro ; que ficaram a cargo de um assessor ; para justificar a permanência do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. A oposição promete ir para cima, numa ação de difícil resultado positivo, dada a dificuldade de apuração.