Pressionado por policiais federais, o presidente Jair Bolsonaro mergulhou na articulação política para tentar alterar o parecer do relator da reforma da Previdência, deputado, Samuel Moreira (PSDB-SP). Ao longo do dia, o chefe do Executivo federal agiu para evitar que a insatisfação das categorias, que exigem regras especiais de aposentadoria, gerasse impacto na base de sustentação do governo e no relacionamento do Planalto com o Congresso. Por celular e pessoalmente, Bolsonaro orientou auxiliares a costurar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a incluir, no substitutivo de Moreira, regras mais flexíveis para os profissionais de segurança. O acordo, porém, acabou não saindo.
Apesar de desagradar ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e algumas lideranças partidárias contrárias a ampliar concessões, a iniciativa de equiparar as regras entre policiais federais, rodoviários federais e legislativos aos policiais militares e oficiais das Forças Armadas era considerada inevitável no Palácio do Planalto. Bolsonaro foi alertado por assessores palacianos que não ceder neste ponto geraria conflitos com correligionários e aliados da bancada da bala.
As conversas começaram na terça-feira, depois que representantes de policiais, reunidos em frente ao Planalto, chamaram Bolsonaro de ;traidor;, e se intensificaram ontem. De São Paulo, onde participou, pela manhã, da solenidade de passagem do Comando Militar do Sudeste (CMSE), o presidente conversou com Guedes e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, além do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, e dos líderes do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).
A ideia era tentar incluir estados e municípios na reforma da Previdência, de forma a possibilitar, inclusive, regras de aposentadoria especiais a policiais civis. Entretanto, segundo líderes políticos, as conversas não avançaram a tal ponto, limitando-se a um acerto para favorecer as forças auxiliares de segurança pública federais. O engajamento de Bolsonaro com o assunto motivou até o cancelamento da presença dele em uma cerimônia para formalizar a doação de materiais e equipamentos de segurança aos estados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), na Praça dos Três Poderes.
No retorno a Brasília, Bolsonaro determinou que Onyx conversasse com Rodrigo Maia para tentar definir regras diferenciadas aos policiais na terceira versão do relatório de Moreira. O governo deixou os detalhamentos para o relator, mas assegurou que, apesar do tratamento privilegiado, algum ;sacrifício; os policiais terão de aceitar, afirmou, no fim da tarde, o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros.
O porta-voz declarou que o presidente sempre destacou a importância do trabalho dos profissionais da área de segurança, sendo um defensor do atendimento das necessidades dessas categorias para o bom exercício da profissão de risco. ;As condições diferenciadas das categorias estão sendo estudadas com rigor e negociadas no Parlamento. Mas o presidente reforça: todo mundo vai dar a sua cota de sacrifício;, sustentou Barros.
Ao discursar, ainda em São Paulo, pela manhã, o presidente não explicitou suas intenções, mas sugeriu que os policiais poderiam ficar ;tranquilos;. ;A reforma da Previdência atenderá a todos. Fiquem tranquilos os meus colegas das forças auxiliares. (Mas) O sacrifício tem que ser dividido entre todos para que possamos colher os frutos lá na frente;, declarou.