Jornal Correio Braziliense

Politica

Uma sinfonia inacabada

Presidente do Ipea afirma que o Plano Real ficou incompleto, o que resultou em juros altos



OPlano Real foi uma grande conquista, mas é uma obra inacabada, que deixou como herança uma alta de taxa de juros. Essa é a avaliação de Carlos von Doellinger, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, com o Plano Real, o Brasil conseguiu ;relativa estabilização; monetária, um pacote de privatizações e debelou crises externas. Faltou, porém, acredita, completar a missão em dois aspectos: fazer ajuste fiscal e eliminar o deficit nominal (receitas e despesas do governo, inclusive gastos com o pagamento de juros da dívida pública).

;A herança ruim foi ter se sustentado muito tempo na âncora cambial, até 1999, e ter que fazer um choque de juros com grande elevação da taxa real para compensar câmbio, como o que convivemos até hoje;, disse. ;Como não conseguimos fazer o ajuste pela despesa, apelou-se pela receita, o que aumentou a carga tributária em cerca de oito pontos percentuais do PIB e ficamos com essa carga tributária de 33%, 34% do PIB, um ônus pesado que carregamos até hoje, que atrasa o desenvolvimento.;

Ele ressaltou que o ajuste iniciado pela equipe econômica do Plano Real precisa ser completado e afirmou que a equipe econômica tem um conjunto de propostas para complementar ;a sinfonia inacabada do Plano Real;. Segundo ele, a reforma da Previdência, prioritária, é uma delas, mas não resolve todos os problemas. ;Pode gerar uma onda de otimismo, e o investidor estrangeiro pode se animar, mas o que vai alavancar o crescimento é uma onda pesada de investimentos, basicamente, do setor privado.;

Doellinger citou também a reforma tributária, mas disse que ela não vai conseguir reduzir a carga tributária no médio prazo, porém poderá simplificar os impostos e reduzir o custo das transações. Outra reforma que ;está no pipeline;, conforme afirmou, é a do Pacto Federativo, que será encaminhado ao Senado. Segundo ele, as mudanças propostas pelo governo na divisão das receitas entre os entes federativos lembra o Fundo Social de Emergência do Plano Real, uma desvinculação de receitas que permitiu uma alocação mais racional dos fundos públicos.