No ano em que comemora um quarto de século de estabilidade da sua moeda mais longeva, o Brasil atravessa um deserto, flerta com a recessão e corre o risco de uma convulsão social, porque quase um terço da população sofre com as consequências da desocupação. As preocupantes considerações foram levantadas por economistas presentes, ontem, no Correio Debate: 25 anos do real.
O economista-chefe do banco UBS, Tony Volpon, definiu o momento atual vivido pelo Brasil como uma ;travessia no deserto;. O país saiu de um lugar difícil, com hiperinflação e forte dependência do Estado, mas não chegou aonde ;tem que chegar;. Para ele, não há atalho: o caminho é continuar o processo de reformas estruturantes, com foco em melhorar as condições de produtividade e concorrência. ;Qualquer outra alternativa é ilusão;, disse.
Volpon não negou que houve avanços desde 1994, com algumas privatizações, progressos na questão fiscal e ;uma certa abertura da economia;, mas explicou que as medidas adotadas desde a implementação do real não foram suficientes para alavancar a economia brasileira. ;Ao fim do dia, as políticas não conseguiram nos levar até uma taxa de crescimento média acima de 2%;, lamentou. ;Ainda temos um ambiente de negócios hostil, carga tributária alta e distorcida, e não somos uma economia aberta;, enumerou.
Para José Luis Oreiro, professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o baixo crescimento da economia brasileira é uma questão estrutural. O especialista destacou que o país está afundado no problema cíclico do desemprego. ;Hoje, 13% da população está desempregada. Quando se coloca na conta desalentados e os que trabalham menos do que gostariam, chega a 25% da força de trabalho, ou seja, 25 milhões de pessoas;, contabilizou.
Ao considerar uma família média de três pessoas, são 75 milhões de brasileiros que sofrem os efeitos da desocupação, um terço da população. ;Isso, em algum momento, pode provocar uma convulsão social;, alertou. Além disso, como o desemprego de longo prazo, por mais de dois anos, já atinge quase 3,5 milhões, há o risco de o país sair da renda média e cair na pobreza.
Crescimento pífio
Para o professor da UnB, o que explica a redução do crescimento da economia brasileira a partir dos anos 1980 foi a queda sensível do esforço de arrumação de capital. ;Enquanto nos anos 1950, 1960, 1970 crescia em 9%, 10%, a partir de então, a média caiu para 2,5% ao ano. Isso porque o Brasil investiu uma fração muito pequena do PIB (Produto Interno Bruto) na expansão da capacidade produtiva e não é possível ter desenvolvimento de longo prazo sem produtividade;, frisou.
Para Volpon, uma combinação de ;azar e má escolha; interrompeu o processo de crescimento na década de 1980. ;Reverter o quadro é importante para que o país não desperdice outras oportunidades de crescimento. Desde 1980, duas janelas foram perdidas: a da urbanização e a da industrialização;, destacou.
Para resolver o problema, segundo o economista-chefe do UBS, é preciso acabar com o ;vício; em políticas de ;suporte; adotadas pelo Estado nos últimos anos. ;O que ocorreu nos últimos anos para levar a taxa de crescimento, que já é decepcionantemente baixa, a cair? Houve muito direcionamento e alocação de capital do Estado, em um processo que a economia privada ficou meio viciada no crédito, no subsídio e no corte de impostos;, assinalou.