Convocadas por movimentos de direita e endossadas por aliados do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, manifestações em defesa da agenda do governo, como a Reforma da Previdência, ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e à Operação Lava-Jato aconteceram ontem nas 26 capitais, no Distrito Federal e em outras 70 cidades brasileiras. As polícias estaduais não divulgaram os números oficiais, mas São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte reuniram o maior número de participantes. Em Brasília, os organizadores estimam que 10 mil pessoas foram para as ruas.
Os manifestantes defenderam a força-tarefa e o ministro que, há duas semanas, têm sido acusado, por parte de sociedade, de abuso de poder nos trabalhos conduzidos pela Lava-jato, desde que o site The Intercept começou a publicar diálogos entre Moro e o chefe dos investigadores da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e outros procuradores, no Telegram.
A presença de carros de som e de integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) na manifestação da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro foi criticada por parte dos apoiadores do ex-juiz e causou um pequeno tumulto que precisou da intervenção da polícia. Apesar de rapidamente solucionado, o clima contra o MBL é tenso e eleitores do Bolsonaro que não fazem parte do movimento gritavam ;traidores; e ;vendidos; ao passar pelos carros de som patrocinados pelo MBL. Apoiadores do governos estão decepcionados com o MBL que tem assumido um discurso mais crítico com relação ao governo.
Fidelidade
Políticos filiados ao PSL, como o senador major Olímpio (SP), que esteve no ato da Avenida Paulista; e a deputada Joice Hasselmann (SP), que compartilhou imagens das passeatas em Brasília e no Rio, aproveitaram a oportunidade para declarar fidelidade ao governo. Em Brasília, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) foi aplaudida quando subiu no carro elétrico. Ela esteve com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Heleno, durante as manifestações. Além da Reforma da Previdência, em várias cidades, as manifestações destacaram o pacote anticrime de Moro, parado enquanto o governo tenta conseguir os votos da Previdência.
Críticas a congressistas e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também estiveram presentes em várias capitais brasileiras. Manifestantes pediam ;corte de privilégios; para os integrantes do Judiciário. ;Eu vejo, eu ouço;, postou Moro no Twitter, por volta de 12h, com um vídeo de imagens aéreas da manifestação na orla da praia de Copacabana. Mais tarde, o ministro voltou a se manifestar pela rede. ;Sou grato ao presidente e a todos que apoiaram nosso trabalho. Hackers, criminosos ou editores maliciosos não alterarão essas verdades fundamentais;. Ontem, o jornal Folha de S. Paulo e o site The Intercept publicaram novos trechos de diálogos que revelam desconfiança de procurados sobre os depoimentos de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, cuja delação premiada foi fundamental para a condenação do ex-presidente Lula.
No Rio, a manifestação se espalhou pelas imediações da avenida Atlântica. Palavras em favor de Moro e da Lava-Jato estiveram na maioria das faixas e cartazes exibidas pelo público. Havia também mensagens elogiosas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e críticas à corrupção.
Brasília
Na capital, o protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, onde foram inflados quatro bonecos gigantes. Um deles, tradicional, vestia Moro com a roupa do personagem Super-Homem e apresentava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com roupa de presidiário. Um dos infláveis uniu Lula e o ex-ministro do PT José Dirceu, condenado na Lava-Jato, e o ministro do STF Gilmar Mendes. Um dos bonecos associou o Supremo ao PT, partido adversário dos bolsonaristas.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, se juntou aos manifestantes. Ele subiu no trio, criticou o PT e fez ataques ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, afirmando que ele ;não goza de crédito nenhum e é tão burro que vaza informação errada;. O jornalista reagiu no Twitter ;Queiroz também estava lá?;, O general Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), subiu no trio elétrico e defendeu Moro. ;Acho que é uma calhordice quererem colocar o ministro Sérgio Moro na situação de julgado ao invés de juiz. Estão querendo inverter os papéis e transformar um herói nacional num acusado. ;
Em Belo Horizonte, vestidos com as cores da bandeira do Brasil, manifestantes também defenderam a reforma da Previdência no modelo proposto pelo ministro Paulo Guedes, e o pacote anticrime de Moro, que propõe medidas contra a corrupção e o crime organizado. ;Foram prometidos vazamentos comprovando atividade criminosa por parte do Moro, mas até agora não vimos nada que mostre que ele tenha influenciado a operação ou a eleição;, afirma o coordenador do Movimento Brasil Livre em BH, Ivan Gunther.
As manifestações aconteceram na Praça da Liberdade. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso e a ex-presidente Dilma Rousseff sem ocupar cargo público, os alvos dos manifestantes foram o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e os ministros do STF.
Na capital baiana, a manifestação ocorreu na orla da Barra. O ponto de encontro foi o tradicional Farol da Barra, onde compareceram centenas de pessoas com roupas nas cores verde e amarelo. A caminhada se estendeu até o Morro do Cristo.
"Eu Vejo. Eu ouço;
Sérgio Moro, no Twitter
"O Queiróz também estava lá?;
Glenn Greenwald, no Twitter
"Aos que foram às ruas manifestar seus anseios, parabéns, mais uma vez, pela civilidade;
Jair Bolsonaro, no Twitter