O ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que mensagens atribuídas a ele e a procuradores da Lava-Jato no Paraná, publicadas ontem pelo site The Intercept, ;foram editadas; e ;não são autênticas;. Desde que os vazamentos vieram à tona, ele vem alegando que o conteúdo pode ter sido ;editado;. No entanto, essa é a primeira vez que Moro diz que os trechos revelados não são autênticos. O procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal no Paraná, também contestou a autenticidade dos diálogos. Ao Correio, três fontes da Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmaram que o conteúdo divulgado realmente existiu, mas que alguns trechos não foram divulgados pelo site.
Nas mensagens publicadas, a procuradora Monique Cheker critica a condução dos processos da Lava-Jato pelo ministro na época em que ele era juiz no Paraná. ;Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados;, teria dito Monique. Em um grupo no aplicativo Telegram, os procuradores teriam demonstrado preocupação com o fato de Moro marcar encontros com o presidente Jair Bolsonaro após o resultado das eleições do ano passado.
De acordo com o conteúdo publicado, o temor seria que a imagem da Lava-Jato e as ações de combate ao crime fossem prejudicadas. Um dos que participam do diálogo é o procurador Alan Mansur, coordenador da Lava-Jato no Pará. Tem toda a técnica e o conhecimento para ser um excelente ministro da Justiça, e tentar colocar em prática tudo que ele acredita. Porém, o fato de ter aceitado, neste momento, entrar na política, e dessa forma, é muito ruim pra imagem de imparcialidade do sistema de justiça e MP em geral;, disse
Minutos antes de a reportagem entrar no ar, o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, apresentou a reprodução de uma conversa, citando o procurador Ângelo Goulart Villela, mas alega ter se referido a Ângelo Augusto Costa.
De acordo com Moro, fatos como esse revelam que o conteúdo sofreu alterações, e mesmo que verdadeira, não revelaria nenhuma ilegalidade. ;A matéria do site, se fosse verdadeira, não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava- Jato...;, disse Moro.
Pelo Twitter, ele também criticou os vazamentos, afirmando que o objetivo é gerar impacto em ações penais que correm na Justiça contra acusados de corrupção. ;Isso só reforça que as mensagens não são autênticas e que são passíveis de adulteração. O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular condenações e impedir investigações contra a corrupção?;, disse. O site informou, em nota, que os diálogos apresentados não são cópias ou reproduções dos documentos, mas sim transcrições, e completou afirmando que os erros foram corrigidos.
Anonimato
Ao site O Antagonista, Monique negou autoria das mensagens atribuídas a ela.;Sobre a parte em que o The Intercept diz que escrevi: ;Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele (Sérgio Moro) já atuava assim. Alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da pró-atividade dele, que inclusive aprendiam com isso;, esclareço que, conforme pode ser obtido publicamente dos meus assentos funcionais, durante praticamente todo o ano de 2008, eu trabalhei como procuradora de contas do Ministério Público junto ao TCE do Rio de Janeiro, cargo que assumi em 2006. Nunca tinha ouvido falar do ex-juiz Sérgio Moro, muito menos tive contato com alguém do MPF/PR;, disse.
Um dos procuradores que aparecem nas mensagens do The Intercept conversou com a reportagem sob a condição de anonimato, e confirmou a veracidade do conteúdo. ;Me recordo dos diálogos com os procuradores apontados pelo site. O grupo não existe mais. No entanto, me lembro do debate em torno do resultado das eleições e da expectativa sobre a ida de Moro para o Ministério da Justiça. Consegui recuperar alguns arquivos no celular. Percebi que os trechos divulgados não são de diálogos completos. Tem mensagens anteriores e posteriores às que foram publicadas. No entanto, realmente ocorreram;, disse.
Além dele, outros dois procuradores também confirmaram a autenticidade ao menos de partes dos diálogos, após serem contatados pela reportagem. Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) informou que ;cumpre o dever de alertar a sociedade sobre a impossibilidade de considerar como verdadeiras essas mensagens que expõem procuradores;.