Ele demonstrou isso ao se tornar o primeiro presidente da República a participar da Marcha para Jesus, em São Paulo, há duas semanas, onde se lançou, prematuramente, candidato à reeleição. ;Se não tiver uma boa reforma política. Se o povo quiser, estamos aí;, disse, contrariando promessa de campanha, quando afirmou que, se eleito, ficaria no cargo por apenas um mandato. Na Marcha, ele defendeu a ;família respeitada e tradicional;, se definiu como um presidente cristão e atribuiu a vitória nas urnas à vontade de Deus. Com isso, pelo menos até o fim do ano, tem nos brasileiros mais conservadores uma base de apoio para presidir o país.
[SAIBAMAIS];A precarização do capitalismo fez a sociedade pedir soluções. Uma parte dos brasileiros começou a perceber que as gerações mais novas não conseguiam reproduzir o padrão de vida de antigamente nem apresentar perspectivas de evolução para o futuro. Nesse sentido, apostar no conservadorismo parece a resposta para tudo, mesmo que de maneira simplista;, analisa a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, Débora Guimarães.
Ideologia de Gênero
A sociedade brasileira, que é adepta aos princípios mais conservadores, tem absorvido o discurso inflamado do presidente durante a corrida eleitoral, de ataque à esquerda e marcado pelo incentivo ao patriotismo. ;Quando um cidadão conservador vê que o presidente fala abertamente sobre assuntos como o combate à ideologia de gênero e é incisivo quanto a questões envolvendo raças e etnias, ele perde o medo de se manifestar e se sente autorizado a ter as mesmas práticas. Ou seja, se nem o presidente mantém uma postura do que é considerado politicamente correto, por que o cidadão comum tem de ter controle sobre isso?;, analisa Guimarães.O reflexo disso é um Brasil majoritariamente conservador. Desde 2010, o instituto Ibope Inteligência fez três estudos para analisar como o conservadorismo está arraigado entre os habitantes do país. O mais recente, de 2018, mostrou que o índice de brasileiros com alto grau de conservadorismo é de 55% ; há nove anos, era 49%. ;Mesmo com todos os presidentes mais liberais que já estiveram no poder, ainda carregamos uma carga pesada da formação social e racial do país. O Brasil tem uma história conservadora forte, tanto que viveu quase 400 anos de escravidão. Parte desse posicionamento mais duro perdura até hoje;, completa.