Politica

Nova guerra entre Bolsonaro e Congresso torna incerto rumo da Previdência

Às vésperas da votação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara, presidente avisa que vetará lista tríplice para o comando de agências reguladoras e afirma que Legislativo tenta lhe tirar atribuições

Rodolfo Costa
postado em 25/06/2019 06:00
Bolsonaro deu posse ao novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge de Oliveira, major da reserva da Polícia Militar do DFO presidente Jair Bolsonaro declarou guerra ao Congresso às vésperas da votação da reforma da Previdência. Ele anunciou, nesta segunda-feira (24/6), que vetará o trecho da Lei Geral das Agências Reguladoras, que prevê a formação de uma lista tríplice para a definição de candidatos às diretorias colegiadas das autarquias. Também alfinetou o governador de São Paulo, João Doria, argumentando que o tucano tem de pensar no país, não em seu estado, ao defender a transferência da etapa de Fórmula 1 para o Rio de Janeiro.

Ao bater o pé e dizer que vai vetar o trecho da lei das agências reguladoras, porque a matéria, como está, o deixaria como a ;rainha da Inglaterra;, o chefe do Planalto manda uma resposta ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O demista, porém, rebateu: disse que o presidente ;não compreendeu o projeto de lei;.

Aliados teriam alertado Bolsonaro de que Maia e Doria costuram um projeto de governo entre DEM e PSDB, mirando as eleições de 2022. Com as declarações nesta segunda-feira (24/6), o chefe do Planalto, querendo ou não, está mandando recados a um parlamento comandado, nas duas Casas, pelo DEM. ;Olha, a decisão, até o momento, de indicar o presidente das agências é minha. A partir desse projeto, (haverá) uma lista tríplice feita por eles. Então, essa parte será vetada de hoje (nesta segunda-feira ; 24/6) para amanhã (nesta terça-feira ; 25/6);, avisou.

O projeto, acrescentou Bolsonaro, teve parecer terminativo em comissões e não foi apreciado pelo plenário. ;Então, as agências têm poder muito grande, e essa prerrogativa de o presidente (da República) indicar o presidente (das agências) é muito importante, porque nós teremos um poder de influência, algum poder de influência, nessas agências;, sustentou, durante encontro no Palácio para tratar da transferência da etapa da F-1 para o Rio. Na ocasião, ao ser questionado se Doria não ficaria chateado com o apoio à mudança, ele respondeu. ;Olha, pelo que a imprensa diz, ele (o governador) será candidato a presidente em 2022. Então, ele tem que pensar no Brasil, e não no seu estado;, frisou.

As declarações ocorrem num momento em que a Comissão Especial da reforma da Previdência deve analisar, até quinta-feira, a proposta de emenda à Constituição (PEC) 6/2019. Além disso, a Casa deve apreciar o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 233/2019, que susta o decreto n; 9.785, dispositivo que flexibiliza a posse e o porte de armas e munições. Aliados de Maia prometem uma articulação para a derrubada do decreto e do veto ao projeto das agências reguladoras. O clima bélico entre as forças de apoio ao demista e a Bolsonaro está prestes a eclodir e deve provocar o racha do Centrão, bloco composto por PP, PL e PRB.

Defesa

O deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, é um dos parlamentares que se posicionaram favoravelmente ao decreto n; 9.785/19, mas nem a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), nem o presidente da bancada ruralista, Alceu Moreira (MDB-RS), saíram em defesa. ;Defendo a posse e o porte de armas com as exigências elencadas no decreto do presidente da República, Jair Bolsonaro. E não me venha com a balela de que a ;liberação; da compra de arma vai influenciar os homicídios! Pode aumentar é o exercício da legítima defesa do cidadão trabalhador contra o bandido vagabundo. O bandido já está armado, pois compra arma de forma clandestina;, disse Pinato, em nota divulgada nesta segunda-feira (24/6).

O posicionamento de Pinato provocou silêncio em grupos de parlamentares, dizem congressistas ligados ao pepista. Afinal, enquanto lideranças próximas a Maia se articulam para derrubar o decreto, posição confirmada pelo próprio demista, um membro do alto clero do Centrão adotou o caminho inverso. No Palácio do Planalto, a disputa interna entre os fiéis a Maia e os que sinalizam predisposição em apoiar o governo é observada com lupa. Dizem, no entanto, que eventuais ;abraços; a esses aliados ficarão para depois da votação da PEC 6/2019 em plenário. Afinal, tratam a votação como uma espécie de termômetro para a composição da base no cenário pós-reforma.

Ministro minimiza troca

O presidente Bolsonaro deu posse nesta segunda-feira (24/6) ao novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge de Oliveira. Também foi empossado o novo presidente dos Correios, general Floriano Peixoto. A cerimônia não teve a presença dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, nem do Senado, Davi Alcolumbre. Oliveira disse que a ida da articulação política para a sua pasta não vai diminuir a força de outros ministérios, como a Casa Civil, que, até a semana passada, era responsável por essa função. ;Não há aqui nenhuma diminuição de forças entre ministério, ao contrário, há o fortalecimento de pautas próprias que sejam de articulação, de coordenação ou de administração... e articulação política, todo mundo faz. Todos os ministérios fazem a articulação no sentido de receber demandas, de conversar, de dar seguimento a elas;, frisou.

Prerrogativa

A proposta aprovada no Congresso estabelece que a lista tríplice será elaborada por uma comissão de seleção, que terá sua composição e forma de atuar regulamentadas pelo próprio presidente da República. O texto do projeto também mantém com o chefe do Planalto a prerrogativa de indicar o nome dos dirigentes das agências. As declarações de Bolsonaro contra um trecho da Lei Geral das Agências Reguladoras é interpretada pelo advogado Claudio Timm, sócio de TozziniFreire Advogados, como uma medida contrária à boa governança das autarquias. ;Isso porque a inclusão no projeto de lei do processo de seleção dos candidatos a dirigentes das agências, com a formação da lista tríplice a ser enviada ao presidente da República, buscava exatamente impor um rigor maior na indicação de dirigentes das agências que atendessem os requisitos de reputação ilibada, notório conhecimento e sólida experiência profissional;, declarou. Especialista em direito administrativo e relações governamentais, ele ressalta que esses requisitos já constavam na Lei 9.986/2000, que dispõe sobre a gestão de recursos humanos das agências, mas que, na prática, muitas vezes não eram respeitados pelos presidentes.




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