Jornal Correio Braziliense

Politica

Bolsonaro: Moro é patrimônio nacional

Presidente diz não ter visto nada de anormal nos supostos diálogos entre o então juiz e procuradores da Lava-Jato e ressalta que, se depender dele, o ministro seguirá no governo. Senadores veem fortalecimento do ex-magistrado




O presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa do ministro da Justiça, Sérgio Moro, enquanto o ex-juiz da Operação Lava-Jato prestava depoimento no Senado sobre mensagens atribuídas a ele pelo site The Intercept, que o acusa de ter aconselhado procuradores quando comandava a 13; Vara Federal de Curitiba. O chefe do Planalto disse que Moro é ;um patrimônio nacional; e que, se depender dele, o ministro continua no governo.

Em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Moro se defendeu das acusações de que teria feito conluio com procuradores da Lava-Jato, afirmou não ter apego ao cargo e disse que deixará a pasta se forem encontradas irregularidades cometidas por ele (leia reportagem na página 3).

Para senadores, Moro saiu fortalecido da sessão, em que a discussão acabou voltando-se principalmente para quem é a favor ou contra a Lava-Jato. Integrantes do PT e do PDT foram os únicos a atacar, de fato, o ministro, que deixou a Casa ;muito maior do que entrou;, como disse o senador Chico Rodrigues (DEM-RR). O ex-juiz foi elogiado por parlamentares que permaneceram no plenário 3 até o fim da audiência.

Cada parlamentar inscrito na sessão teve cinco minutos para questionar o ministro, com mais dois de tréplica. Moro dispunha de três minutos para responder às dúvidas dos congressistas. Ele foi chamado de ídolo pelo novato Jorge Kajuru (PSB-GO) e quase levou às lágrimas o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que disparou: ;Viemos aqui apenas para lhe aplaudir;.

Renan Calheiros (MDB-AL), que andava discreto entre seus pares, tentou pressionar Moro. Quis saber se o então juiz havia homologado delações antes da lei de 2013 que a regulamentou. O ministro disse que sim, com base em outras leis que previam a colaboração. Logo depois, o senador, que responde a 13 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), deixou o plenário.

Embate

Causou mal-estar, porém, o diálogo ríspido entre o líder do PT na Casa, Paulo Rocha (PA), e Moro. O parlamentar fez questão de lembrar que o juiz foi responsável pelo julgamento de um processo contra ele, que acabou absolvido. Rocha também comparou as conversas de Moro e Deltan Dallagnol com a divulgação, autorizada pelo então juiz, dos diálogos entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em 2016.

;É absolutamente diferente utilizar hackers criminosos e pedir uma escuta com amparo judicial;, respondeu Moro. Ele também declarou ;nunca ter tido satisfação pessoal em condenar quem quer que seja;, numa clara referência a Lula.


;Trama;

De Guaratinguetá (SP), onde participou de solenidade de formatura de sargentos na Escola de Especialistas da Aeronáutica, Bolsonaro foi categórico na defesa do ministro. ;Eu também não tenho apego ao meu cargo. Qualquer ministro é livre para tomar as decisões que bem entender. Sérgio Moro é um patrimônio nacional, não é do presidente da República;, afirmou. Ao ser questionado se há possibilidade de o ministro sair, respondeu: ;Se depender de mim, não;. ;Sérgio Moro é dono de si, não vi nada de anormal até agora;, declarou.

Bolsonaro acusou, sem citar nomes, o jornalista do The Intercept Glenn Greenwald e o marido dele, o deputado David Miranda (PSol-RJ), de armarem uma ;trama; para atingi-lo. Ele citou o episódio em que o parlamentar foi detido por espionagem em Londres, em 2013, no auge das reportagens de Greenwald sobre documentos dos Estados Unidos vazados pelo ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden. ;Aquele casal lá, um deles foi detido há pouco tempo na Inglaterra por espionagem, um outro aqui tem suspeita de vender o mandato, e a outra menina, namorada do outro, está fora do Brasil;, disse o presidente. ;Atacam quem está do meu lado para tentar me atingir. Vão quebrar a cara. Podem procurar outro alvo, esse já era. Sérgio Moro é nosso patrimônio.;