A saída de Joaquim Levy da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não abalou analistas de mercado. Eles já esperavam que, diante da personalidade de Bolsonaro, nem mesmo técnicos de alta competência sobreviveriam nos cargos se não partilhassem do pensamento do presidente. A demissão deverá ter pouco impacto no mercado financeiro hoje. O que vai interferir ou não na confiança do investidor é a escolha do sucessor.
;É claro que nunca é boa a saída de um homem como o Levy. Mas somente haverá problema se, em vez de manter um técnico, o presidente resolver indicar um político;, avalia o economista César Bergo, sócio consultor da Corretora OpenInvest. ;Há um temor no ar, porque não se sabe até que ponto o BNDES servirá de moeda de troca para a aprovação da reforma da Previdência;, diz Bergo.
O economista menciona a proposta de retirar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), fonte de recursos do BNDES, para cobrir despesas com aposentadorias e pensões, medida que está no relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB) sobre a PEC da Previdência. ;A saída de Levy pode ser mesmo resultado da insatisfação com a presença de ex-integrantes dos governos do PT, mas pode ser também a brecha que precisava para uma possível ingerência política. É esperar para ver;, assinala.
Perfil
Para Eduardo Velho, sócio executivo da GO Associados, a saída de Levy é uma questão pontual, embora ninguém tenha entendido muito bem os argumentos para tirar alguém de um lugar onde está atuando com competência. ;Todo mundo, agora, está esperando para saber qual será o perfil do escolhido. Se não for um louco, a vida do banco continuará sem maiores arranhões;, destaca Velho.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, afirma que o que deu uma certa tranquilidade ao mercado foi a percepção de que a demissão de Levy não foi apenas uma coisa da cabeça de Bolsonaro. ;Ao que tudo indica, a decisão passou também pelo crivo do ministro da Economia, Paulo Guedes. Com isso, o mercado vai passar ao largo dessa discussão política;, acredita.