O general sinaliza que não tem as mesmas resistências de Santos Cruz. Ainda cauteloso, afirmou ao Estado considerar o relacionamento da imprensa com o presidente "fundamental". "Vamos defender o estado democrático e os valores. Eu sou muito do meio", disse. "Se chover muito é ruim, mas se não chover, seca. A natureza é assim. Eu tento seguir a natureza", afirmou, em relação às verbas publicitárias.
As mudanças na comunicação não devem se resumir à troca do ministro. O Estado apurou que o general terá a missão de resolver um impasse na estrutura da área. Atualmente, o relacionamento com a imprensa é feito tanto pela Secretaria de Comunicação (Secom), comandada por Fábio Wajngarten, quanto pelo porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros. Este último responsável por repassar diariamente aos jornalistas as opiniões do presidente. Ambos serão chefiados por Ramos.
A relação entre Rêgo Barros e Wajngarten não é "harmoniosa". O porta-voz, que integra a ala militar do governo, é afinado com o agora ex-ministro Santos Cruz. Ele assumiu várias funções que seriam do chefe da Secom devido a um vácuo que existia antes da chegada de Wajngarten, a ponto de organizar cafés da manhã de jornalistas com o presidente, o que está longe de ser uma função clássica de um porta-voz. Desde que chegou, a equipe de Wajngarten tenta retomar esse papel.
Para evitar a sobreposição de funções, o governo estuda uma nova estrutura que transfere a comunicação para a Secretaria-Geral da Presidência, hoje comandada pelo general Floriano Peixoto, também militar.
O estilo de Santos Cruz fez com que Bolsonaro ficasse "enclausurado" no Palácio do Planalto, o que afetou sua popularidade, no entendimento de Wajngarten. No comando da Secom, mesmo contrariando seu então chefe, Santos Cruz, o secretário promoveu a participação do presidente em programas populares no SBT e a entrevista para a revista Veja, a primeira desde que assumiu o mandato.
Também foi Wajngarten quem aconselhou o presidente a voltar a ser o Bolsonaro "intuitivo" para reconquistar popularidade. Os conselhos levaram o presidente a dar "escapadas" recentes, como quando caminhou a pé do Palácio da Alvorada até o Congresso e a pilotar uma moto no Guarujá, no litoral de São Paulo, no feriado de Páscoa.
Ideologia
A briga na comunicação reflete uma disputa que atinge outras áreas do governo. De um lado estão os ideólogos, liderados pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, e o escritor Olavo de Carvalho. Os dois atacaram fortemente Santos Cruz, da ala militar, por "esconder" o presidente. Embora Wajngarten negue ser ligado à ala ideológica, eles concordam neste ponto.
Já Rêgo Barros, antes de assumir o posto foi assessor do ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, um dos poucos militares no Palácio do Planalto a rebater publicamente os ataques de Olavo. Na ocasião, referiu-se ao guru do bolsonarismo como "Trotski de direita".
O presidente já disse em mais de uma oportunidade que deve a Carlos, o filho "02", a vencedora estratégia de comunicação que o levou à Presidência.
;Não serei um general da ativa no governo;
"Soldado não escolhe missão; ele cumpre", assim reagiu o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira à sua nomeação para ser o ministro-chefe da Secretaria de Governo. Ele reuniu os subordinados ontem no Comando Militar do Sudeste (CMSE) e começou a se despedir. Aos generais reafirmou por escrito seu "comprometimento com o Exército Brasileiro e com o Brasil, cumprindo sempre todas as ordens que lhe forem determinadas". Amigo do presidente Jair Bolsonaro, Ramos vai se licenciar do Exército. Leia a entrevista:
General, o senhor é o segundo general da ativa nomeado por Bolsonaro e o primeiro do Alto Comando. Como fica a relação do senhor com o Exército?
Está havendo muita confusão. Não serei um general da ativa no governo. Estarei licenciado, não usarei farda e não participarei de nenhum processo decisório no Alto-Comando do Exército. Na próxima semana, vou a Brasília e me apresentarei ao comandante, general (Edson) Pujol, de quem receberei a missão. Prestarei continência ao comandante. Essa é a liturgia. Na terça-feira (18), estarei em trajes civis começando as reuniões.
O senhor já conversou com o presidente sobre a Secretaria de Comunicação e sobre as relações com o Congresso? Como o senhor vai atuar nessas áreas?
Não, ainda não. Vou encontrá-lo hoje (ontem, 14) no Aeroporto (Bolsonaro assistiria ao jogo Brasil e Bolívia, a abertura da Copa América, no Morumbi). Acabei de ser nomeado. Vou conhecer primeiro a estrutura da Secretaria de Governo antes de emitir qualquer juízo de valor sobre qualquer questão.
Como foi para o senhor substituir o general Santos Cruz?
Conversei com o Santos Cruz. Somos amigos. Ele entendeu que recebi uma missão e vou cumpri-la. Sou um soldado. E soldado não escolhe a missão. Estava apaixonado pelo comando em São Paulo, mas acredito que minha ida a Brasília é mais importante, agora, para o governo e para o Brasil.