O presidente Jair Bolsonaro quebrou um recorde (negativo) com a demissão do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz. A dispensa de três ministros em menos de seis meses completos de mandato não era levada a cabo por nenhum presidente desde a redemocratização. O que chegou mais próximo dessa marca foi Fernando Collor de Mello, que, no mesmo período, mandou embora dois ministros, ambos da Agricultura: Joaquim Roriz e José Bernardo Cabral (interino, mas que exerceu o posto cumulativamente).
O levantamento, que pode ser feito na Biblioteca Digital da Presidência da República, não é bem-avaliado no governo ; por civis e, sobretudo, militares ; nem no Congresso. O baque foi maior, principalmente, entre os oficiais das Forças Armadas que estão no governo. Foi difícil para eles digerirem a notícia da saída de Santos Cruz, classificado por um militar ouvido pelo Correio como uma pessoa íntegra, dedicada e um ;espartano;. ;Cumpriu sua missão com muita correção e seriedade;, ponderou.
A trajetória de Santos Cruz fala por si, frisaram militares. O reconhecimento mundial pelo que fez nas Nações Unidas o credencia a uma vaga para ser consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) ;quando quiser;, avaliaram. O golpe na cúpula militar foi duro, e ninguém nega. Por mais que o sucessor, general Ramos ; comandante militar do Sudeste e amigo de Bolsonaro desde 1973 ; seja alguém da mesma escola que Santos Cruz, ficou entre os militares o clima da falta de reconhecimento ao agora ex-ministro.
Ao tirar Santos Cruz e manter o secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, Bolsonaro mostra, no entendimento de militares, uma parcialidade para o lado ideológico. Oficiais afirmaram que muita gente ludibria o presidente, que não tem condições de acompanhar tudo de muito perto. ;Algumas pessoas se aproveitam disso, em especial quando têm a proximidade dos filhos ou fazem parte de grupos religiosos ou ideológicos;, criticou outro militar.
No Congresso, o sentimento não é muito diferente, em especial entre deputados de centro-direita, que encontravam em Santos Cruz uma interlocução melhor do que com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. ;Era melhor ter transferido o Santos Cruz para a Casa Civil e colocado o Ramos na Secretaria de Governo;, criticou um deputado do Centrão. A última agenda do general com um congressista foi em reunião individual, ontem, com o deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China. Ambos discutiram novas fontes de arrecadação para o país. O deputado, no entanto, evitou polemizar a troca. ;Temos que aguardar. O general Santos Cruz era um grande ministro, focado e competente, mas o general Ramos é da mesma escola, foi assessor parlamentar, e ambos defendem o bom diálogo entre os Poderes constituídos;, destacou. (RC)