A confiança de Bolsonaro em Moro se mantém inalterada. A interlocutores e pessoas próximas, o presidente diz que as mensagens vazadas não maculam a imagem do ministro e garante não haver qualquer intenção em demovê-lo do cargo. Afinal, os dois se retroalimentam em um jogo de ganho mútuo. O ministro da Justiça é o pilar do governo no combate à corrupção, um dos lastros da campanha vencedora nas eleições. Por sua vez, a permanência no posto é, para o ex-juiz, a porta de entrada para o Supremo Tribunal Federal (STF). O problema é que, com a crise, ficou mais difícil manter a postura de ;paladino da Justiça; perante o Congresso, poder responsável pela sabatina que poderá aprovar ou não a provável indicação de Bolsonaro.
A divulgação das conversas entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato, em Curitiba, feita pelo site The Intercept, gerou um clima de desconfiança no parlamento. A sugestiva imagem de interferência de Moro nas investigações, segundo interpretam parlamentares, coloca em xeque a credibilidade e a conduta do ministro no atual cargo e na Suprema Corte. A avaliação é feita não apenas por partidos da oposição, mas também por integrantes de legendas da centro-direita, como PL, PP, PRB, DEM, PSDB e MDB. Os mais incomodados sugerem, em conversas reservadas, a ideia de colocar Moro sob ;fritura;, e o recado prático disso virá por meio de articulações para frear o pacote ;anticrime; apresentado pelo ministro.
A estratégia de Moro e Bolsonaro para evitar a fritura foi a própria decisão do ex-juiz de ir ao Congresso na próxima semana. Não é para menos. Com a reforma da Previdência tramitando na Câmara, é no Senado que o pacote anticrime está tramitando, por meio de três propostas idênticas às apresentadas aos deputados. Também são os senadores integrantes da CCJ os responsáveis por sabatinar indicados pelo presidente da República ao posto de ministro do STF. A próxima vaga à Corte será aberta com a aposentadoria do decano Celso de Mello, em novembro de 2020.
Polarização
Com o movimento, Moro se antecipa aos pedidos de convocação feitos pelos deputados de oposição ao governo e, assim, tenta baixar a temperatura. A reunião com Bolsonaro, segundo a assessoria de Moro, se desenrolou num clima tranquilo. ;O (presidente) entendeu as questões que envolvem o caso.; Na nota, a pasta mencionou o episódio como ;invasão criminosa de celulares de juízes, procuradores e jornalistas;, e informou que Moro ;rechaçou a divulgação de possíveis conversas privadas obtidas por meio ilegal e explicou que a Polícia Federal está investigando a invasão criminosa;.Logo depois do encontro, Bolsonaro e Moro deixaram o Alvorada, em lancha da Marinha em direção ao Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, para um evento. Ali, Bolsonaro entregou uma medalha comemorativa ao ministro e quebrou o protocolo. Em vez do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, deixou Moro ao seu lado direito.
Mesmo se recusando a falar sobre o caso envolvendo o ex-juiz, Bolsonaro foi aconselhado pelos militares a se aproximar de Moro, que foi defendido publicamente pelos ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (GSI), principal articulador dos apoios da caserna em relação ao ex-magistrado. O vice-presidente Hamilton Mourão também se pronunciou. O movimento mais enfático, nesta terça-feira (11/6), foi feito pelo ex-comandante do Exército e atual assessor do GSI, general Villas Bôas. ;Momento preocupante, porque dá margem a que a insensatez e o oportunismo tentem esvaziar a Operação Lava-Jato. Expresso o respeito e a confiança no ministro Moro.;
Estratégia
A proteção a Moro é feita apesar de alguns integrantes do Planalto classificarem o hackeamento das mensagens mais como um desgaste ao ministro. Não acreditam que o governo tenha sido atingido, pelo menos até o momento. Ainda assim, a articulação política se movimentou. Onyx defendeu o titular da Justiça nas redes sociais e iniciou a construção de uma articulação junto a parlamentares do baixo e médio cleros para auxiliar na defesa. A parlamentares, orientou a articulação política no Congresso a negociar a liberação de R$ 2 bilhões em emendas individuais em troca da aprovação do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 4/2019, que dispõe sobre a liberação de um crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões ao governo.As emendas representam um gesto importante para as bases eleitorais dos parlamentares, uma vez que os recursos são, obrigatoriamente, investidos em obras e serviços de saúde e educação.