O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o Ministério Público Federal condenaram a divulgação de conversas via aplicativos de mensagem da força-tarefa da Lava-Jato. Segundo texto publicado no site do MPF, hackers invadiram os celulares de promotores envolvidos na operação, entre eles, o procurador Deltan Dallagnol. ;Ainda não se sabe a extensão da invasão, mas se sabe que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho;, afirma o comunicado. O invasor teria conseguido, também, ;documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da força-tarefa e de suas famílias;. A Polícia Federal investiga a interceptação das conversas há pelo menos uma semana.
Além das conversas entre membros da força-tarefa, o material copiado dos celulares inclui diálogos entre Moro, então juiz, e o procurador Deltan Dallagnol, que violam a independência entre o MP do Paraná e a Justiça. Consta, no artigo 145 do Código Processual Civil, que há suspeição do magistrado para julgar um caso quando, entre outros motivos, ele tiver aconselhado alguma das partes. O conteúdo foi divulgado pelo site de notícias The Intercept Brasil. Tanto o texto do MPF quanto uma nota divulgada por Moro criticam a publicação do veículo por não ouvir as pessoas citadas. Na publicação do site, os repórteres afirmaram que não procuraram as partes ;para evitar que eles atuassem para impedir sua publicação e porque os documentos falam por si;.
A matéria do Intercept, divulgada dias após o ministro ter afirmado que o celular havia sido invadido por um hacker, foi dividida em uma introdução e três partes. Em uma delas, a conversa se restringe a Dallagnol e outros promotores. Eles ficam alarmados com a notícia de que o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski liberou a entrevista do ex-presidente Lula para a jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo. Passam algum tempo discutindo estratégias para impedir ou diminuir o impacto do material jornalístico e, depois, comemoram ao saber que o ministro Luiz Fux concedeu liminar impedindo o encontro. Segundo o site, isso demonstraria o envolvimento ideológico dos integrantes da força-tarefa.
Triplex
Em outro trecho, o Intercept revela que Dallagnol não tinha certeza sobre as provas usadas para vincular o triplex atribuído a Lula às propinas da Petrobras, mas se sente mais à vontade após encontrar a publicação de uma reportagem, que não mencionava a OAS ou a Petrobras. Na última parte da publicação, o site revela as conversas entre Moro e o procurador. O então juiz cobra mudanças na ordem das operações, que as ações ocorram com mais velocidade e chega a puxar a orelha do procurador. ;Em 31 de agosto de 2016, Moro mais uma vez escancarou seu papel de aliado dos acusadores ao questionar o ritmo das prisões e apreensões. ;Não é muito tempo sem operação?;, perguntou o então juiz ao procurador às 18h44. A última fase da Lava-Jato havia sido realizada 29 dias antes ; a operação Resta Um, com foco na empreiteira Queiroz Galvão;, escreveram os repórteres.
O ministro da Justiça e Segurança Pública se manifestou. Além de lamentar não ter sido procurado, ele ressaltou a invasão de hacker e disse não ver ;anormalidade; em sua atuação. Em seu perfil no Twitter, o ministro tentou minimizar a matéria. ;Muito barulho por conta de publicação por site de supostas mensagens obtidas por meios criminosos de celulares de procuradores da Lava-Jato. Leitura atenta revela que não tem nada ali apesar das matérias sensacionalistas;, escreveu.
Dellagnol também se manifestou pela rede social. Em dois momentos, divulgou trechos da nota do MPF, mas depois se posicionou. ;Como o assunto foi polêmico, gerou algumas interpretações equivocadas. Para esclarecer, o MPF elaborou um documento de perguntas e respostas que explica em detalhes;, postou, pedindo a seguidores que divulgassem um link.
Segundo a nota do MPF, há o temor de que a invasão coloque em risco os promotores, e que os fatos sejam deturpados e utilizados para a divulgação de fake news. Consta, ainda, que ;a força-tarefa da Lava-Jato estará à disposição para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de sua responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena licitude e legitimidade de sua atuação (...);. ;Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cinco anos de Operação;, afirma o órgão. ;A atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do ;hacker; para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava- Jato;, segue a publicação. O episódio vai repercutir nas principais discussões do Congresso.