Politica

Centrão tem um terço dos parlamentares mais influentes do Congresso

Parlamentares do bloco de partidos com força suficiente para definir votações representam a maioria da elite do Legislativo. Levantamento do Diap mostra renovação inédita (53%) dos protagonistas na Câmara e no Senado

Leonardo Cavalcanti
postado em 09/06/2019 08:00

Parlamentares se cumprimentam no Congresso Nacional

Há um jogo em andamento no Congresso mais amplo e complexo do que aquele disputado no centro das Mesas Diretoras. Quatro meses depois da posse dos parlamentares, 100 políticos, entre deputados e senadores, se destacam como protagonistas no cotidiano do Legislativo, para além das câmeras de tevê ou de celulares, formulando, debatendo, negociando ou arbitrando conflitos. O mais recente estudo Os cabeças do Congresso, elaborado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), publicado com exclusividade pelo Correio, mostra a força do Centrão ; como é conhecida a amálgama de partidos políticos que desequilibra as forças governistas e oposicionistas nas principais pautas em debate. ()


Dos grupos revelados pelo levantamento, o Centrão ; que agrega políticos de PP, PSD, DEM, PRB, PL, PSC, Patri e Solidariedade ; tem o maior número de parlamentares mais influentes (31), entre eles Wellington Roberto (PL-PB) e Arthur Lira (PP-AL). Como os demistas estão no barco, as principais estrelas são os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre. Não é exagero dizer que, para onde a agulha do Centrão apontar, as chances de prejudicar ou favorecer o governo federal são enormes. O grupo impôs derrotas ao Planalto, como o Orçamento Impositivo ; que dá mais poder aos parlamentares em relação aos gastos e às despesas ;, e a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da aba do ministro da Justiça, Sérgio Moro, apenas para ficar em dois projetos.

;O Centrão reúne três condições que faz dele um ator fundamental no parlamento: é numericamente significativo, tem os quadros mais experientes e é o fiel da balança, pois decide para onde vai a política pública, se para o governo ou para a oposição;, diz Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Diap. Dos 513 deputados, cerca de 200 integram o Centrão, criado de maneira informal como grupo ainda na Constituinte, em 1998. A história mostra que teve como idealizador Roberto Campos (1917-2001), então senador do PDS de Mato Grosso. A estratégia na época era estancar as derrotas dos parlamentares ditos liberais nas comissões e subcomissões da Constituinte. Um recuo histórico, entretanto, mostra que o bloco conservador já estava organizado como contraponto à Nova República, em 1985.

Presente como um força inquestionável na gestão Bolsonaro, o Centrão atuou nos governos Sarney ; decisivo no aumento do mandato do então presidente ;, Collor, Itamar ; na defesa de integrantes envolvidos na CPI dos Anões ;, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. ;No governo Dilma, a relação foi conflituosa, tanto que escalaram Eduardo Cunha para concorrer à Presidência da Câmara;, lembra Queiroz. ;Cunha, em represália à negação do PT em votar a favor do arquivamento de processo que tramitava contra ele no Conselho de Ética, abriu o processo de impeachment contra Dilma.; O resto da história está contada, mas, como se viu, os fantasmas do Centrão assombram presidentes e continuarão assombrando.

Mudanças

O levantamento do Diap mostra uma renovação de mais de 50% na elite do parlamento em relação ao ano passado. ;Nem no primeiro governo Lula houve uma renovação tão grande na lista;, diz Queiroz. ;Um dado importante é que aqueles com mais exposição na mídia e nas redes sociais não necessariamente estão entre os mais influentes. O sujeito fica mais preocupado em produzir conteúdo para os eleitores e menos preocupado em resolver problemas, são pouco ou nada objetivos.; Desse grupo, aqueles que receberam missões e perceberam a necessidade de qualificação no processo legislativo acabaram entrando na lista dos mais influentes.

Entre outras considerações, a lista apresenta número inédito de parlamentares de primeiro mandato ; ao todo, 34 deles aparecem no levantamento ;, boa parte conectados às redes sociais, e uma maior presença de perfil liberal. Há um detalhe, entretanto. Os políticos que entraram, mesmo novatos, conseguiram compor ao longo dos últimos quatro meses, perdendo a estridência verificada na campanha eleitoral. ;O Congresso é um colegiado, é preciso buscar a unidade. O político que fica esbravejando nas redes sociais, a chance de ele produzir algo objetivo é próxima de zero;, afirma Queiroz.

;O melhor exemplo é o próprio presidente. Se dependesse dele, as pautas do governo jamais seriam aprovadas no Congresso. As pautas estão sendo aprovadas porque têm coincidência programática com o novo Congresso, que é liberal do ponto de vista econômico, fiscalista do ponto de vista de gestão e atrasado em relação a valores, comportamento e meio ambiente.; Além dos 100 mais influentes, o Diap relaciona outros 50 deputados que, segundo a metodologia, aparecem em ascensão. Nessa categoria estão aqueles que recebem missões partidárias e buscam abrir canais de interlocução, criando espaços próprios. Entre os novatos, um dos nomes em ascensão é o deputado Alexandre Frota (PSL-SP).

A forte presença do Centrão na lista, entretanto, é o mais emblemático, confirmando o que o próprio Palácio do Planalto identificou nos últimos meses. ;O Legislativo, cada vez mais, terá uma pauta autônoma, pois o sujeito não está disposto a ser hostilizado e votar uma pauta do interesse do governo. Ele pode até votar uma proposta semelhante, mas vai buscar uma proposição que desvincule do governo para mostrar a sua independência.; É o Centrão sendo o Centrão. Se ao longo dos últimos 35 anos sempre mostrou alguma energia para fazer valer as próprias posições, agora parece mais forte do que nunca.

Frota e Maia: Diap apontou 150 nomes, entre influentes e em ascensão

Bancada do DF tem quatro nomes

Entre os oito deputados e três senadores, a bancada do Distrito Federal apresenta quatro nomes na lista dos mais influentes do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). No levantamento dos 100 ;cabeças;, aparece Érica Kokay (PT) ; enquanto que, na categoria ascensão, estão posicionados o senador Izalci Lucas (PSDB), a deputada Bia Kicis (PSL) e o deputado Luís Miranda (DEM).

O levantamento atribui algumas características dos parlamentares para incluí-los na lista, entre elas, a capacidade de debater temas, formular propostas e negociar a aprovação. No caso de Kokay, a principal característica é discutir e influenciar propostas. Izalci é vice-líder do governo Jair Bolsonaro, o que garante destaque nas negociações. Kicis, por sua vez, apresentou como trunfo o cargo de vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Luís Miranda, empresário, tem se destacado pelo trabalho forte de bastidores, sendo um dos principais nomes em ascensão.

O partido de Kicis, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro, apresenta seis deputados e dois senadores na lista dos 100 mais e outros três integrantes da Câmara entre os que aparecem na lista daqueles em ascensão. O PT aparece com 12 deputados e quatro senadores, incluindo o baiano Jaques Wagner, que, junto a Tasso Jeiressati (PSDB-CE), Esperidião Amin (PP-SC) e Otto Alencar (PSD-BA), exerce forte influência sobre o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). ;Esse grupo faz um contraponto aos que atuam nas redes sociais, jogando apenas para os eleitores;, diz Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Diap.

;Invisível;

O deputado Aécio Neves (PSDB-MG) ; mesmo distante da mídia depois dos escândalos e distante dos holofotes ; tem se movimentado nos bastidores e acabou entrando no levantamento. O tucano é apontado pelo Diap como um articulador, ;que exerce um poder invisível entre colegas de bancada, sem aparecer na imprensa ou nos debates de plenários ou comissões;. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filhos do presidente Jair Bolsonaro, também participam da turma dos articuladores.

Entre os 100 mais influentes, aparecem 39 articuladores, 24 debatedores, 16 formuladores e 21 negociadores, aqueles ;investidos de autoridade para firmar e honrar compromissos, a partir da experiência e do respeito entre os pares;. Entre os nomes deste último grupo está o senador Eduardo Braga (MDB-AM), por exemplo. (LC)

Metodologia

Para fazer a classificação, o Diap adota critérios qualitativos e quantitativos, que incluem aspectos institucionais, de reputação e de decisão, a partir de postos ocupados, capacidade de negociação e liderança. Com base nesses quesitos, a equipe do departamento faz entrevistas com parlamentares, assessores legislativos, cientistas e analistas políticos e jornalistas, além de levantamentos relacionados a projetos apresentados e a discursos proferidos. São considerados também resultados de votações, relatorias, intervenções nos debates, frequência de citações na imprensa, análise dos perfis e grupos de atuação.

*Ao contrário do informado no texto da edição impressa o número de deputados do DF na elite e em ascensão no Congresso corresponde a quatro, como mostra a reportagem acima.

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