A Receita Federal vai formar um grupo especial para analisar as declarações fiscais do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), de seu ex-assessor Fabrício Queiroz e de outras 93 pessoas que, como eles, tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados pela 27; Vara Criminal do Rio de Janeiro. O levantamento tentará identificar os vínculos entre todos os investigados, bem como a origem e o destino final das transações financeiras apontadas como atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A análise do fisco é mais uma fonte de pressão sobre Flávio Bolsonaro, cujas transações financeiras e patrimoniais já são investigadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Os negócios de Flávio Bolsonaro estão na mira das autoridades desde que o Coaf apresentou um relatório mostrando movimentações atípicas de Fabrício Queiroz, um ex-policial militar que assessorava o político quando ele exercia mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, Queiroz movimentou em sua conta um total de R$ 1,2 milhão, quantia considerada incompatível com seus vencimentos.
A análise que a Receita Federal fará sobre as declarações fiscais de Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, estará a cargo de uma equipe de funcionários do setor de inteligência do órgão, informou à reportagem um auditor federal que pediu anonimato. Segundo ele, ;o grande número de investigados e as ferramentas de que esses auditores dispõem levam a crer que esse trabalho tem um potencial arrasador;.
Segundo esse auditor, entre os alvos da Receita estão os repasses de dinheiro feitos por Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, incluindo um cheque de R$ 24 mil.
Durante entrevista em 31 de dezembro passado, um dia antes de tomar posse como presidente, Jair Bolsonaro afirmou que o cheque era parte do pagamento de empréstimos feitos por ele a Queiroz, que totalizariam R$ 40 mil. Na ocasião, ele admitiu não ter declarado o suposto empréstimo à Receita. ;A Receita vai fazer o que chamamos de ;aranhas;, ou seja, cruzar as informações para mapear a origem e o destino final das transações financeiras;, disse o auditor.
O resultado do trabalho da Receita Federal servirá de subsídio para a investigação do MPRJ sobre possíveis crimes que teriam sido cometidos por Flávio Bolsonaro. No pedido de quebra de sigilos enviado à 27; Vara Criminal do Rio de Janeiro, os promotores citam suspeitas de organização criminosa, peculato (desvio de dinheiro público por servidor) e lavagem de dinheiro no antigo gabinete do político na Assembleia Legislativa.
Segundo apuração, há suspeita de que servidores do gabinete, sob a coordenação de Queiroz, devolviam parte de seus vencimentos para o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, uma prática conhecida como ;rachadinha;. Procurado pela reportagem, o senador do PSL não quis se pronunciar.