Jornal Correio Braziliense

Politica

Equipe quer Bolsonaro longe de manifestação

Grupo próximo do presidente tenta convencê-lo a se manter afastado do protesto convocado pelo PSL para domingo. A leitura é de que a eventual ligação dele com a mobilização pode causar danos ao governo, como aumentar a temperatura da crise na base aliada


Com o PSL cada vez mais isolado, a equipe próxima do presidente Jair Bolsonaro tenta convencer o chefe a se manter longe das manifestações convocadas pela legenda para o próximo domingo. A estratégia é compartilhada pelos próprios incentivadores dos protestos, como o senador Major Olímpio (PSL-SP), pois os alvos são o Legislativo ; leia-se as legendas do Centrão, principalmente ; e, mesmo que de maneira periférica, o Judiciário.

;Posso garantir que o presidente não está envolvido. Se ele tivesse, já teria me estimulado ou simplesmente dado um esporro;, disse Major Olímpio ao Correio. ;Ele não deve participar, pelo menos não tem nada previsto, acho que nem mesmo vai tuitar.; Há uma série de riscos para o caso de a imagem de Bolsonaro grudar na manifestação, a começar pelo próprio aumento da temperatura da crise na base aliada, por causa dos ataques ao Centrão.

Existe também a incerteza sobre a quantidade de participantes. Segundo parlamentares governistas ouvidos pela reportagem, sem o apoio direto de movimentos, como o MBL, a tendência é de que as manifestações ocorram, mas sem grandes números. A terceira questão é o receio de que grupos mais radiciais, formados principalmente por amalucados e defensores do fechamento do Congresso e do Supremo, consigam algum protagonismo no domingo.

;A manifestação nasceu de maneira espontânea e foi ganhando apoios de parlamentares;, afirmou a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). Segundo ela, o protesto é livre, mas não acredita em protagonismo de grupos a favor de militarização. ;É um recado do povo aos políticos, e é natural que ocorram protestos contra o Centrão.; Major Olímpio é mais direto, criticando nominalmente integrantes do DEM, como ACM Netto, Rodrigo Maia e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. ;Estão tentando desmoralizar o governo. O Onyx é incapaz de pedir um voto. Diz que articula, só não pede voto para o partido dele.;

Aproximação
Mesmo que Bolsonaro se mantenha distante das manifestações, as últimas declarações o aproximam do coro dos insatisfeitos com o movimento do PSL. Ontem, no Rio, ele voltou a criticar a classe política ao afirmar que não vai ;criar dificuldade para vender facilidade;, o que, segundo ele, é uma prática comum no país. Ele disse que o Brasil, apesar de todos os percalços, tem solução, mas que o grande problema está nos políticos. ;É um país maravilhoso, que tem tudo para dar certo, mas o grande problema é a nossa classe política. É nós, Witzel, é nós, Crivella, sou eu, Jair Bolsonaro, é o parlamento, em grande parte, é a Assembleia Legislativa... Nós temos que mudar isso.;

O porta-voz governista, general Otávio Rêgo Barros, declarou que não há certeza sobre a adesão do presidente ao ato, articulado como resposta à suposta conspiração que impede Bolsonaro de governar. ;Enquanto se discute a presença do presidente, o que é algo pouco provável, no Palácio o assunto é outro: se (a manifestação) não tiver adesão suficiente e o movimento acabar apequenado, será um novo golpe contra o governo;, frisou um técnico do Planalto. Entre os conselheiros presidenciais, a preocupação é o possível recuo de Bolsonaro em temas como educação e finanças públicas, o que causaria mal-estar na Esplanada e sinalizaria pouca habilidade no enfrentamento de pressões populares.

Para pessoas próximas ao presidente, ;não faz o menor sentido ir às ruas em defesa do governo quando não há ameaça alguma de impeachment;. Comenta-se nos corredores que ;isso apenas enfraquece o posicionamento do Planalto;. Nos primeiros meses de gestão, a popularidade do governo Bolsonaro, que começou com pouco mais de 50% de aprovação, despencou. Segundo a última pesquisa do Ibope, divulgada no mês passado, 35% dos brasileiros consideram a atuação do presidente boa ou ótima.

Resposta
Aos ataques do senador Major Olímpio, o deputado Arthur Maia (DEM-BA) respondeu com críticas: ;Na época em que o ex-presidente Michel Temer tentou reformular a Previdência, o parlamentar foi contra o projeto. Depois, voltou atrás. O Olímpio se colocou contra a reforma da maneira mais mal-educada e grosseira possível;, destacou à reportagem. Maia foi relator do projeto enviado ao Congresso ano passado.

O deputado, que não vai participar da mobilização a favor de Bolsonaro, explicou não haver razão para que o partido dele ocupe a Esplanada. ;Colocam o DEM como parte do Centrão, o que não é. Também não somos base. Nossa contribuição é a seguinte: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), estão dando ao país a estabilidade que falta no governo.;

;Estão tentando desmoralizar o governo. O Onyx (Lorenzoni) é incapaz de pedir um voto. Diz que articula, só não pede voto para o partido dele;
Major Olímpio, senador


Janaina critica ;imobilismo; do governo
Deputada estadual pelo PSL de São Paulo, Janaina Paschoal tem feito de seu Twitter uma plataforma para criticar a condução do governo Jair Bolsonaro, que é do mesmo partido. Ontem, a deputada voltou a apresentar motivos pelos quais não defende a manifestação marcada para domingo. ;O governo se colocou na situação em que está;, tuitou Janaina. ;E chama as pessoas para tirá-lo do imobilismo. Por quê?; Ela também ameaçou deixar o partido. A advogada sinalizou a possível desfiliação em uma mensagem enviada, ontem, no grupo de WhatsApp da bancada do partido no Legislativo paulista. ;Amigos, vocês estão sendo cegos. Estou saindo do grupo, vou ver como faço para sair da bancada. Acho que os ajudei na eleição, mas preciso pensar no país. Isso tudo é responsabilidade;, escreveu a parlamentar na mensagem reproduzida pelo site O Antagonista.